Aquilo que recentemente se passou na Costa do Marfim, e que tão desapercebido tem passado entre o Mundo da Informação, é uma demonstração de como ainda é premente que se travem combates pela democracia em todo os lugares do Mundo onde eles são precisos e não apenas naqueles locais seleccionados pelo outro Mundo (o da Informação) para manipular as nossas emoções em função de conveniências geoestratégicas. A história é simples, tem muito de dejá vu e constitui a enésima confirmação de que existe uma incomensurável distância entre uma verdadeira democracia e a organização de cerimónias mais ou menos legítimas onde os cidadãos de um país são convidados a exprimir a sua opinião através de boletins de voto. As eleições presidenciais na Costa do Marfim andavam a ser adiadas desde 2005…

Finalmente, depois de meia dúzia de marcações goradas, o primeiro turno das eleições presidenciais desta República presidencialista – o que estava em disputa era mesmo a
posse do poder, não os lugares de uma qualquer assembleia – realizou-se a 31 de Outubro passado. E, como acontece com a maioria dos países africanos (a Costa do Marfim leva já 50 anos de independência), as divisões políticas internas correspondem a divisões étnicas, linguísticas e religiosas. Nesse primeiro turno, houve três candidatos que obtiveram votações significativas (38%-32%-25%), mas nenhum alcançou a maioria absoluta que é requerida para a eleição sendo necessária a realização de uma segunda volta com os dois candidatos mais votados (Gbagbo e Ouattara), segunda volta essa que teve lugar a 28 de Novembro passado.
Em qualquer dos casos, os processos eleitorais foram organizados pela
Comissão Eleitoral Independente, uma organização nacional que também é responsável pelas ligações com as equipas de observadores internacionais encarregues de as validar – especialmente os pertencentes à
União Europeia, organização
por detrás da qual aparece a França que, para além de ser a antiga potência colonial, é a grande potência que se mostra mais interessada na evolução política da Costa do Marfim. Se o Presidente em exercício (
Gbagbo) havia partido em vantagem da primeira volta (38%), os resultados da segunda volta apontaram para uma vitória do seu rival
Ouattara (54%). Porém, e ao contrário do que acontece nas
verdadeiras democracias, o aparelho do estado, dirigido pelos fiéis a Gbagbo, não aceitou esses resultados

E, quando se chega a estes extremos, todos sabemos como os militares e a polícia sabem contar votos
muito melhor que os civis… Se, pelas contas deles, dizem que foi Gbagbo o
vencedor então é
verdade, porque o armamento costuma ser um argumento
decisivo em
democracia. Mais a sério e sem ironias, tudo aponta para que o regime de Gbagbo,
se sobreviver, se venha a tornar em mais um dos estados
párias da comunidade internacional como, por exemplo, o
Zimbabué de Mugabe. Não deixa de ser curioso como estes casos entre países remotos, mas afastados das
fronteiras das disputas entre grandes blocos geopolíticos, acabam por não despertar a mesma
atenção e
condenação moral, também aqui na
blogosfera, que despertam outros casos de países igualmente remotos (
a Birmânia ou
as Honduras), que estão localizados nessas
fronteiras estratégicas…
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