
A forma como a informação ocidental, especialmente a anglo-saxónica costuma acompanhar os acontecimentos no Zimbabué contém um travo de
indignação adicional, tanto pela conduta ditatorial de Robert Mugabe (que não se distinguirá assim tanto da de muitos outros Chefes de Estado daquele continente), como pelo processo degenerativo que aquele país tem vindo a sofrer. Essa
indignação, quando comparada com as situações doutros países, só consigo explicar pela história recente daquele país.

Já aqui escrevi sobre
vários aspectos dessa história, desde o período da supremacia da minoria branca, quando o país ainda se chamava Rodésia, e das negociações falhadas entre esses representantes locais e a metrópole britânica que acabaram depois por levar à
declaração unilateral de independência do Zimbabué (normalmente conhecida pelo acrónimo
UDI) em Novembro de 1965 (acima) sob o governo da comunidade de origem europeia - 265.000 pessoas, cerca de 5% da população total.

A concretização da independência unilateral (que foi apoiada pela África do Sul e por Portugal), apesar dos boicotes da comunidade internacional mobilizados pelo Reino Unido, foi uma das últimas humilhações do poder imperial britânico já na fase de se esvanecer. É que, numa perspectiva eurocêntrica, as comunidades europeias nas colónias eram para ser entendidas como
extensões da vontade da metrópole, não serviam para
atrapalhar os objectivos definidos pelos governos metropolitanos, como esta fez...

É assim que os catorze anos decorridos entre 1965 e 1979, ano da assinatura dos
Acordos de Lancaster House, em que o Reino Unido
recuperou formalmente e por uns meses a tutela da colónia rebelde e o domínio do processo de condução do Zimbabué à independência sob um governo eleito pela maioria, acabaram por ser vistos como um
desvio de um
filho pródigo que
más companhias fizeram trilhar
maus caminhos – como a
Guerra da Savana (acima), já referida neste
blogue.

Fosse outra a história antecedente, mesmo assim os trinta anos que já decorreram depois da independência (1980) não fariam da história do Zimbabué independente uma
história de sucesso. A hiperinflação que vigorava no país desde há uma dúzia de anos (abaixo) tornou-se uma daquelas curiosidades que escapa à compreensão comum: em 2007 foi de 11.200.000%,
segundo os próprios dados oficiais! Há cerca de um ano que a
moeda (se lhe puder ser dado esse nome...) foi retirada de circulação…

Como
boa demagogia, os relatos condenatórios que incluem este e outros episódios, apenas deixam a sugestão, não afirmam, que tudo isto
poderia ter acontecido doutra forma diferente, ou que a entrega descontrolada do poder à maioria negra
tende a degenerar em situações como aquela que se vive no Zimbabué… Resta provar que isso é verdade, mas há que reconhecer que uma fotografia de um enxame de zimbabueanos com fome à volta da carcaça de um elefante tem um impacto poderoso!

Esses sentimentos dúbios têm obviamente mais repercussão na antiga metrópole, que foi afinal a principal arquitecta e financiadora dos
Acordos de 1979 e que parece sentir-se traída pela conduta de Robert Mugabe depois de alcançar democraticamente o poder. Tanto é assim que os cumprimentos (imprevistos) entre um Ministro dos Estrangeiros britânico (
Jack Straw) e Mugabe em Nova Iorque em 2004 (abaixo) quando os países estão de relações cortadas tornaram-se num
escândalo nacional!
* Zimbabué: não se trata apenas de negócios, é pessoal. Trata-se de um trocadilho como uma famosa frase do filme
O Padrinho que diz precisamente o contrário:
it's not personal, it's just business.
O celeiro da África é assim a modos como o Alentejo: já era!
ResponderEliminarO Alentejo teve só mais Mugabes...