20 abril 2010

AS MARIANNES

O pintor francês Eugène Delacroix (1798-1863) pintou a sua famosa tela A Liberdade dirigindo o Povo em, e a propósito da Revolução de, 1830. A Liberdade, personalizada na figura de Marianne, a alegoria da República Francesa, dirige aquilo que parece ser o assalto dos revoltosos de peito literalmente nu e descalça, enquanto segura a bandeira tricolor na mão direita e uma espingarda na esquerda.

Por causa daquele quadro, a presença de mulheres na vanguarda das revoluções tornou-se um tema recorrente entre os revolucionários inspirados pelos ideais vindos de França. Na Revolução republicana portuguesa de 5 de Outubro de 1910 por exemplo, podemos ver uma fotografia com a vivandeira¹ Amélia Santos a ser o centro das atenções numa das barricadas erigidas pelos revoltosos.
Mas, com os franceses tradicionalmente desinteressados com aquilo que acontece em Portugal, a outra grande imagem que eles passaram a associar entre Marianne e uma revolução foi uma fotografia tirada em Maio de 1968, por ocasião dos acontecimentos de França. Trata-se de uma fotografia com detalhes interessantes: por exemplo, a protagonista, Caroline de Bandern, era… inglesa².

Na fotografia, o que domina é a expressão esfíngica e triste da Marianne, sentada aos ombros de um amigo, que parece pairar sobre um rés-do-chão popular composto de punhos cerrados, expressões militantes e palavras de ordem. Mas a bandeira de Marianne (da FLN do Vietname do Sul) nem era dela, mas do amigo que a tinha deixado subir às suas cavalitas, por causa dos pés doridos...
¹ Palavra adaptada do francês vivandière. Mulher que vende mantimentos às tropas.
² Como Daniel Cohn-Bendit era alemão.

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