18 abril 2010

AS FOLESTRIAS E FOTOGRAFIAS DE PIERRE E MARGARET TRUDEAU

Pierre Elliot Trudeau (1919-2000) foi uma daquelas personalidades de que se pode dizer com propriedade que ultrapassou o seu próprio país – o Canadá. Pierre Trudeau foi o 15º Primeiro-Ministro do seu país durante 15 anos, de uma primeira vez entre 1968 e 1979 e, depois de um interregno de um ano, entre 1980 a 1984. Trudeau era também um dos poucos membros da minoria francófona canadiana a conquistar aquele posto nos 100 anos de História com que contava o Canadá à data da sua primeira vitória eleitoral.
Na realidade, embora classificado como francófono, Pierre Trudeau era bilingue, porque a mãe, como se deduz do apelido Elliot, era de ascendência escocesa. Quanto à vitória eleitoral de Pierre Trudeau em Junho de 1968 à frente do Partido Liberal, ela foi também um fenómeno sociológico só possível naquela época, que ficou conhecido como a Trudeaumania (acima). A pacífica flower generation da Califórnia, que também se revoltara em Maio em Paris, no Canadá encantara-se com o Primeiro-Ministro, como se ele fosse uma estrela rock
Há que reconhecer que Pierre Trudeau, apesar dos seus 49 anos, e mesmo pelos padrões de hoje, continuaria a ser um político muito pouco convencional, uma verdadeira mina para os jornalistas que o acompanhavam, como quando tiraram a fotografia acima em que ele se deixa deslizar pelo corrimão de umas escadas quando se preparava para dar uma conferência de imprensa. Era esse o tipo de imagens que criava uma enorme empatia com a geração jovem porque – o tempo o veio a provar... – as suas atitudes eram mesmo genuínas.
Pierre Trudeau nascera numa família abastada, o que lhe permitira adquirir uma formação académica cosmopolita, o que era raríssimo nos anos 40: além do Canadá estudara nos Estados Unidos (em Harvard), em França (SciencesPo) e em Inglaterra (LSE). Trata-se de um percurso académico que o fez aproximar-se de certas teses socialistas e durante a década de 50, no auge do Macartismo, Trudeau terá chegado mesmo a constar da lista de canadianos que estariam impedidos de entrar nos Estados Unidos por causa das suas simpatias…
Mas o que o diferenciou e o tornou famoso mundialmente não terão sido as ideias mas sobretudo o seu estilo, um estilo não conformista que o fez permanecer solteiro até aos 52 anos e depois casar com uma mulher (mais acima) que era 30 anos mais nova do que ele: Margaret Sinclair, depois Trudeau. Com a nova ajuda de Margaret e dos filhos do casal, as famosas fotografias instantâneas de Pierre (acima), enriqueceram-se em temas, como foi o caso desta fotografia abaixo, tirada por ocasião da visita oficial de Trudeau a Cuba em 1976…
Não é todos os dias que vemos crianças de colo co-participar em cerimónias oficiais ao lado de um Fidel Castro todo circunspecto batendo a continência… Aliás, ali se justapõem dois conceitos distintos de Revoluções dos anos 60¹... Mas a fotografia mais célebre de Pierre Trudeau será provavelmente a de outro instantâneo de uma pirueta dada por si no Palácio de Buckingham em 1977, mesmo por detrás da Rainha Isabel II (que, recorde-se, também é a soberana do Canadá) e do Principe Carlos, por ocasião de uma visita ao Reino Unido.
Por essa altura, já o casamento dos Trudeau tinha chegado ao fim. Embora ainda não divorciados (só o viriam a fazer em 1984), mas fiéis a eles mesmos, Margaret nem se incomodara a acompanhar o marido naquela visita oficial. Mas no fundo, a imprensa nunca os compreenderia. Ainda em Maio de 1979, na noite da derrota eleitoral que levaria Pierre a perder o cargo, só mesmo a imprensa é que se mostrava impressionada porque Margaret passara a noite a divertir-se numa discoteca nova-iorquina, numa fotografia que correu mundo.
Lembrei-me de Pierre Trudeau por causa do recente episódio em que José Sócrates qualificou o comportamento da tia de Francisco Louçã no Parlamento. Quem nos dera que Sócrates fosse no resto como Trudeau, mas também este teve um problema parecido quando lhe leram nos lábios um Fuddle Duddle (uma versão benigna de Fuck Off!) a meio de um debate parlamentar. No Canadá compuseram uma canção de rock com a letra inspirada (abaixo). Em vez de pudenda indignação, creio que se devia fazer o mesmo em Portugal…

¹ Uma tem por ícone (e poster) Che Guevara, a outra Jimi Hendrix. Hoje haverá tendência para se misturarem mas convém recordar que Che não tocava guitarra e Jimi não costumava andar armado

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