10 maio 2010

THATCHER EM APUROS

Agora que os conservadores britânicos parecem preparar-se para regressar ao poder valerá a pena recordar a sua figura emblemática do último meio século: Margaret Hilda Thatcher (1925- ), a Dama de Ferro. O tempo e a memória dos homens parecem estar a encarregar-se de transformar o percurso político de Margaret Thatcher numa sucessão de consagrações. Nada de mais ilusório. Fui ao baú recuperar para o blogue dois exemplos de maus momentos mediáticos para ela. No vídeo abaixo, durante a Guerra das Malvinas em Maio de 1982, Margaret Thatcher é questionada em directo na TV por uma senhora com ar da avozinha-dona-de-casa-que-não-faz-mal-a-uma-mosca sobre as razões que a levaram a autorizar o torpedeamento do cruzador argentino General Belgrano:
Se necessidade houvesse de confirmar que na TV o que se disputa é a imagem e pouco interessa a qualidade do que se diz, então esta é (mais) uma confirmação. A avozinha, que até tem um buço a puxar para a bigodaça para reforçar as suas raízes populares, mostra ter a sua lição bem decorada para conseguir empregar com propriedade o jargão técnico naval como zona de exclusão ou o navio seguia no rumo 2-8-0 parecendo que ela poderia ter sido uma oficial da reserva naval numa outra encarnação… Enquanto isso, a Primeira-Ministra, que será tão ignorante quanto ela quanto à matéria de facto, defende-se contrapondo aos mais de 300 mortos argentinos as vidas dos nossos rapazes (our boys) que haviam sido assim virtualmente poupadas. Ironicamente, as razões da avozinha eram, essencialmente, um disparate¹
Outro momento embaraçoso é o da fotografia acima, em 1984, quando a estilista e activista Katharine Hamnett foi convidada para a residência oficial da Primeira-Ministra e ali compareceu com aquela ostensiva T-shirt onde se lê que 58% (dos britânicos) não querem (a instalação dos mísseis de cruzeiro) Pershing (II). Neste caso, a fotografia falseia o momento: segundo a insuspeita Katharine, Margaret Thatcher não se apercebeu inicialmente dos dizeres da camisola mas, depois de os ler, deu um estalido como uma galinha, para comentar como uma ironia seca e, desta vez, tecnicamente correcta: Ah! Bom! Mas nós aqui não temos Pershings², se calhar veio à festa errada. Mas a maior ironia de todas será talvez o facto de Katharine Hamnett ter considerado este comentário descortês…

¹ Sucintamente, ela argumentava que o navio estava a abandonar a Zona de Exclusão em redor das Ilhas Malvinas e a abandonar a zona de guerra. Porém, as Zonas de Exclusão, tal como a definida pelos britânicos, estabelecem-se para que os navios civis dos países neutrais ao conflito a evitem. Ora ali, tratava-se do afundamento de um navio militar e de um país beligerante… ou seja, uma operação militar perfeitamente justificável. ² Os mísseis Pershing II iriam ser instalados na então Alemanha Federal e não no Reino Unido.

3 comentários:

  1. Thatcher e Reagan - uma parelha que provocou estragos, a nível mundial, irreparáveis.
    Só me anima o facto de serem, ambos, irrecuperáveis para a política...

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  2. Impaciente,
    Quais estragos? O fim do "muro da vergonha", a recuperação económica dos seus países?
    Não eram perfeitos certamente mas a partir de determinada idades todos somos irrecuperáveis par alguma coisa.

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  3. O liberalismo selvagem que ambos defenderam e a globalização foram benefícios ENORMES para a Humanidade!
    Ainda hoje são um exemplo... para a China.

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