Se a história da relação despótica dos Estados Unidos com os seus vizinhos do Sul precisasse de uma banda sonora, então eu escolheria Quiero La Noche (acima), com o arranjo que lhe foi feito para a apresentação do filme Bananas (1971) de Woody Allen. Paradoxalmente, o compositor da canção é um judeu nova-iorquino, tal como Allen: Marvin Hamlisch. Note-se que, para que se perceba o contraste irónico entre a lírica amorosa da canção e o som dos tiros que marcam o ritmo, é necessário compreender castelhano, o que não seria assim tão frequente em 1971 entre o americano médio…
Aliás, podemos encontrar algumas décadas depois uma outra situação (acima) em que um outro americano (este passava por evoluído…) também se ri de algo que lhe é dito em castelhano mas também sem perceber patavina do que lhe estão a dizer… Felizmente para as audiências nativas, e apesar de se passar parcialmente num país imaginário da América Latina (San Marcos) as restantes piadas do filme não precisam que se saiba castelhano, e algumas delas são até bem visuais, como a cena – que se tornou um clássico – do transeunte espontâneo que se põe a dar indicações a quem está a estacionar o carro.
Woody Allen é o que se chama um génio do cinema. Com a modéstia de trazer em quase todos os filmes uma inovação técnica de que o público em geral não se apercebe - nem tem que aperceber, naturalmente, que o que interessa ao espectador são os efeitos e não o modo como se obtêm. Mas também pela capacidade de produzir excelentes resultados com os processos mais simples. O seu conceito de criatividade e inovação faz-me lembrar José Sócrates... por contraposição! Mas isso é outro filme.
ResponderEliminarDesculpe que este comentário seja um pouco ao lado do assunto do post, mas a minha admiração pelo cineasta em causa, foi mais forte. E só não lhe chamei revolucionário para evitar polémicas.