Embora tenha sido o patriarca de uma dinastia repleta de gente interessantíssima¹, a pessoa do Senhor² Filipe de Orleães (1640-1701), o único irmão de Luís XIV, não ficou para a história de França associada a uma faceta muito simpática. O maior memorialista daquele tempo descreve-o como um homem pequeno com um ventre saliente que se passeava em sapatos de tacões excessivos, carregado de bijutaria e perfumado como se fosse uma cortesã. Mais do que a de homossexual – a lista dos seus favoritos é extensa – a imagem mais marcante com que ficaremos dele será a de uma bichona...
Para além da aparência, também a atitude geral de Filipe não era de molde a despertar muitas simpatias. A sua disponibilidade para servir o Estado, que seu irmão corporizou na sua pessoa numa declaração famosa³, não ia muito para além do cumprimento da complexa etiqueta da Corte. Em cada refeição que tomasse com o Rei, por exemplo, Filipe tinha que ficar de pé no início e estender protocolarmente o guardanapo ao irmão, para que este recompensasse a cortesia com um Meu querido irmão, comei, pois, comigo! e só depois disso é que o Duque se podia sentar à mesa real…
Filipe tinha um entendimento igualmente protocolar da devoção religiosa. Nunca faltava a uma missa e cumpria todos os jejuns canónicos, embora o seu comportamento privado fosse o que se imagina. Ficou famoso um diálogo dele com um padre corajoso – foi pelo episódio que me lembrei dele esta manhã ao pequeno-almoço. Ao perguntar-lhe se cometeria uma falta grave contra o jejum bebendo o sumo duma laranja, ouviu a resposta: Valia mais comer um boi inteiro desde que se vivesse como cristão!...
¹ Filipe II, o Regente, que governou a França entre 1715 e 1723, durante a menoridade de Luís XV. Luís Filipe II, também conhecido pela designação republicana de Filipe Igualdade, que votou favoravelmente a condenação de Luís XVI ao patíbulo em 1792 mas morreu da mesma forma menos de um ano depois. Luís Filipe III, que veio a ser, como Luís Filipe I, Rei dos Franceses entre 1830 e 1848.
² Monsieur no original, título que era conferido em França ao irmão mais velho do rei, que lhe sucederia no caso dele morrer sem descendência.
³ L'État c'est moi (O Estado sou eu)
Para além da aparência, também a atitude geral de Filipe não era de molde a despertar muitas simpatias. A sua disponibilidade para servir o Estado, que seu irmão corporizou na sua pessoa numa declaração famosa³, não ia muito para além do cumprimento da complexa etiqueta da Corte. Em cada refeição que tomasse com o Rei, por exemplo, Filipe tinha que ficar de pé no início e estender protocolarmente o guardanapo ao irmão, para que este recompensasse a cortesia com um Meu querido irmão, comei, pois, comigo! e só depois disso é que o Duque se podia sentar à mesa real…
Filipe tinha um entendimento igualmente protocolar da devoção religiosa. Nunca faltava a uma missa e cumpria todos os jejuns canónicos, embora o seu comportamento privado fosse o que se imagina. Ficou famoso um diálogo dele com um padre corajoso – foi pelo episódio que me lembrei dele esta manhã ao pequeno-almoço. Ao perguntar-lhe se cometeria uma falta grave contra o jejum bebendo o sumo duma laranja, ouviu a resposta: Valia mais comer um boi inteiro desde que se vivesse como cristão!...
¹ Filipe II, o Regente, que governou a França entre 1715 e 1723, durante a menoridade de Luís XV. Luís Filipe II, também conhecido pela designação republicana de Filipe Igualdade, que votou favoravelmente a condenação de Luís XVI ao patíbulo em 1792 mas morreu da mesma forma menos de um ano depois. Luís Filipe III, que veio a ser, como Luís Filipe I, Rei dos Franceses entre 1830 e 1848.
² Monsieur no original, título que era conferido em França ao irmão mais velho do rei, que lhe sucederia no caso dele morrer sem descendência.
³ L'État c'est moi (O Estado sou eu)
E venho eu aqui, ao fim de tão prolongada ausência (pelo menos de comentários) para saber estas "bichices"? Por acaso até gostei pois sou verdadeiramente cusca e ...desjejuo muitas vezes com sumo de laranja.
ResponderEliminarAgora deparar-me com palavras de baixo cariz social como "bichona"!!!! Bolas, pá! Essa não contava. Ainda se fosse, panasca, panunfas, paneleirote, vá lá. Agora bichona!!??? Francamente. Olha que o Aécio a estas horas está aos tombos na tumba com as impudências do seu herdeiro.
Luís Catorze era um homem de acção, um energúmeno e um mulherengo e apesar do seu vestuário feminino que aliás não só é uma característica típica homossexual, este rei custou a flandres grande parte do seu território. A lindíssima cidade Lille (neerlandês = Rijsel ) por exemplo pertenceu a flandres. Não preciso de explicar Aécio isto, mas saiba que o mais formoso cidadão da França do século vinte foi Charles de Gaulle que nasceu em Lille como descendente de uma família (van de walle ) cujo nome foi afrancesado até de Gualle de depois até De Gaulle . Cumprimentos de Antuérpia.
ResponderEliminarDonagata, "bichona" é "bichona" não tem versão erudita e não se substitui por qualquer das opções que apresentaste, cada uma com a sua especificidade, que não vou aqui desenvolver.
ResponderEliminarAlfacinha, creio que aquilo que o quero esclarecer se escreverá assim: "De homoseksueel is niet Lodewijk XIV. Het is zijn jongere broer, Filips van Orléans."
Lamento que não estivesse claro no meu argumento .
ResponderEliminarmas olhe para os sapatos de Luís catorze, então não precisa ser homossexual para trazer vestuário feminino ou ter maneiras femininas. Cumprimentos
Foi pura coincidência que me levou a falar em jejum e chocolate. O jejum imposto pela Igreja ao longo dos séculos é um tema que acho verdadeiramente interessante. Não tinha lido o teu post. Escrevi o meu e estive ausente entretanto. Gostei muito da descrição. Bj.
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