15 janeiro 2010

OS WHIGS E OS TORIES, OS ABRANTES E OS PACHEQUINHOS

Será um pormenor de rodapé da História, mas de qualquer forma interessante, que a designação original dos dois blocos políticos que se formaram no Parlamento britânico no Século XVII são dois veementes insultos que os membros de cada uma das bancadas gritava para os da outra. Os defensores da teoria que haveria nos anos de 1678-81 um enorme complô patrocinado pelo Vaticano para derrubar o Rei Carlos II e o governo de Inglaterra alcunhavam de tory quem pusesse em dúvida a veracidade dessa teoria.

Tory era a designação original dos salteadores fora-da-lei de confissão católica que actuavam então na Irlanda. E actualmente tory tornou-se a muito distinta designação de um daqueles membros clássicos do Partido Conservador britânico… Por sua vez, e regressando a 1678-81, o grupo dos que então insultavam os tories recebia em troca o epíteto de Whig. E a fama dos whigs originais não era muito melhor do que a dos tories: tratava-se do nome dado aos ladrões de cavalos presbiterianos que viviam na Escócia…

Os Whigs iam governar a Inglaterra nas décadas seguintes, dominar a política britânica durante quase todo o Século XVIII, transformarem-se no Partido Liberal no Século XIX, até que a universalização do direito de voto os transformou num partido charneira entre os conservadores e os trabalhistas, representantes da classe operária industrial. A última vez que os Whigs estiveram no poder foi com David Lloyd George (1916 -1922). Mas, lendo o título, o que é que tudo isto terá a ver com Abrantes e Pachecos pequeninos?

Algumas daquelas cabecinhas que parecem ter a certeza que a Imaginação Humana terá progredido imenso com o nascimento das suas pessoas, deram em baptizar quem se manifeste a favor do governo na blogosfera por Abrantes, por analogia com Miguel Abrantes, que é um pseudónimo entretanto tornado mítico, usado por um hipotético autor (podem ser vários...) totalmente dedicado à causa socrática, e cuja investigação sobre a existência real seria um excelente tema actual para uma hipotética tese de mestrado sobre Ciência Política

A todos aqueles rapazes imaginativos faltar-lhes-á talvez o lastro para perceberem que podem estar apenas a repetir uma história velha de 330 anos. Porque à graça de darem uma alcunha aos antagonistas, sujeitam-se à resposta graciosa de receberam outra alcunha dos Abrantes, como a de Pachequinhos (só pode haver um Pacheco e para isso é preciso possuir uma robusta barba grisalha…), aqueles que escrevem em todo os sítios onde podem (blogues, jornais, revistas, televisão...), queixando-se que o governo os asfixia e não os deixa escrever…

3 comentários:

  1. Este post, como é hábito, está excelente.

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  2. O António Costa ainda tentou pôr alguma racionalidade desse discurso de Pacheco, no último Quadratura do Círculo. Mas não pode estender-se muito, quer pela partilha de espaço que o seu partido faz da Televisão, quer pelo sectarismo histórico do PS na RTP, pelo menos nos tempos longos de Mário Soares. Como soi dizer-se: «quem não chora, não mama». Embora chorar não baste.

    Quanto ao "Abrantes", eu começaria por comparar a caligrafia (passe a ironia) com a de Vital Moreira - se um ou o outro merecessem o trabalho.

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  3. Teixeira
    Não me leve a mal mas é caso para dizer tanto deste post como do anterior mas "O meu amigo é terrível."

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