19 janeiro 2010

O CENTRALISMO ESPIRITUAL

O senhor da fotografia acima chama-se José Inácio Munilla Aguirre, é um bispo espanhol e é uma das jovens revelações da hierarquia eclesiástica daquele país. Quando foi sagrado bispo em 2006 ainda não havia completado 45 anos, o que fazia dele o mais jovem bispo de Espanha até àquela data. Tem a reputação de pertencer teologicamente à corrente ultra-conservadora e de, apesar de ser de origem basca, não comungar dos sentimentos de simpatia pelo nacionalismo basco que são prevalecentes entre o clero daquela origem.

Mas a história deste poste começa no momento (há cerca de uns dois meses) em que o Papa Bento XVI promoveu Don José Munilla de bispo da pequena diocese de Palência (com umas 180.000 pessoas) para a de San Sebastian (com quase 700.000), de onde, aliás, ele é originário. E o pormenor engraçado a que quero dar destaque é o de assistirmos a verdadeiros anacronismos em organizações anacrónicas: houve um abaixo-assinado, subscrito por 85 prelados da diocese (77% do total), pronunciando-se contra aquela nomeação
Mais de um milénio antes de Lenine ter inventado a expressão do centralismo democrático, já a Igreja havia implementado esse mesmo princípio do exercício inequívoco da autoridade de cima para baixo, mas sem esses fingimentos cenográficos e nem se dando ao trabalho de lhe dar um nome, que a habilidade semântica de então destinava-se a outros fins. Centralismo espiritual foi uma invenção minha, que a oposição que se desencadeou na diocese, até pode ser analisada como um problema típico das organizações comunistas:

O que importará a opinião de uns meros 85 clérigos (militantes) dos 110 que compõem a diocese (Organização Regional) quanto à pessoa do responsável que foi superiormente escolhido para os dirigir? A Conferência Episcopal (Comissão Política do Comité Central) é que tem de possuir a visão correcta e abrangente do problema. A Igreja (o Partido) não pode vogar ao sabor dos caprichos de alguns irmãos (camaradas) que estão a colocar os seus problemas pessoais antes do objectivo maior da evangelização (Revolução)…
Mais a sério… Por detrás de uma oposição que se mostra tão estranhamente mediática numa organização em que estes enfrentamentos costumam ser discretos, pode ver-se nitidamente aqui a questão da oposição entre o nacionalismo basco versus outro centralismo, o castelhano - é que a sugestão do nome do nomeado veio de Madrid… Quanto a Don José Munilla, e regressando à nomenclatura do marxismo-leninismo, ele está a mostrar ter uma abordagem verdadeiramente dialéctica ao problema das resistências que tem de enfrentar...

4 comentários:

  1. se a memoria não me atraiçoa prelados são os bispos e os cardiais.
    um abraço amigo
    Antonio
    Moura

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  2. afinal é cardeal e não cardial
    Antonio Moura.

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  3. António disse...
    se a memoria não me atraiçoa prelados são os bispos e os cardeais.
    um abraço amigo
    Antonio
    Moura
    antonio.ferreiramoura@gmail.com

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  4. Tem toda a razão que prelado pressupõe a existência de uma autoridade sobre outros membros do clero, o que não acontece no caso em que o empreguei, em que se trata de uma autoridade sobre os fiéis - e em contraponto à autoridade do militante sobre os simpatizantes.

    Para esclarecimento: cardeal não é um nível hierárquico da Igreja, trata-se de um privilégio concedido pelo Papa que permite ao distinguido participar na eleição papal (conclave). Embora não seja prática desde há séculos, não é obrigatório que os nomeados sejam bispos e, por isso, prelados. Na verdade e teoricamente, o Papa até pode nomear Cardeais leigos, i.e., que não pertençam ao clero.

    Um abraço

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