Suponho que a maioria das regras de etiqueta se estabelecem apenas porque sim. Não li o famoso livro de Paula Bobone, mas suspeito que não esteja recheado de demonstrações de teoremas, nem pejado de referências bibliográficas sustentando porque é que, quando se é convidado para casa alheia, por exemplo, é preferível chegar-se ligeiramente atrasado (coisa de uns cinco minutos) do que ligeiramente antes da hora marcada.
Na blogosfera também acaba por haver destas regras também muito diáfanas. Quem escreve num blogue tem perfeita liberdade de escolher o regime de comentários. Ou os aceita ou não. No caso de os aceitar, também pode impor condições. Que quem comente tenha que se identificar, que é o que eu faço neste blogue. E/ou que o comentário tenha de ser previamente aprovado pelo autor do blogue antes de ser publicado.
Na blogosfera também acaba por haver destas regras também muito diáfanas. Quem escreve num blogue tem perfeita liberdade de escolher o regime de comentários. Ou os aceita ou não. No caso de os aceitar, também pode impor condições. Que quem comente tenha que se identificar, que é o que eu faço neste blogue. E/ou que o comentário tenha de ser previamente aprovado pelo autor do blogue antes de ser publicado.
Normalmente isso é um mau sinal – veja-se o caso do blogue de Pedro Santana Lopes… – mas não custa nada experimentar. Mas é aqui que entramos na twilight zone das boas maneiras blogosféricas porque, se a aceitação do comentário é evidente, não existem regras escritas – nem a Paula Bobone se pronunciou sobre isso – quanto ao tempo que será necessário esperar até se aceitar que uma não inserção se tratou de uma rejeição...
Foi para este caso que resolvi estabelecer unilateralmente a regra das 24 horas. Acho que quem quer estabelecer regras para os outros, também se deve impor a si a de visitar diariamente o seu blogue para verificar se há comentários pendentes de aprovação. Foi o tempo que transcorreu desde que fiz um comentário a um poste do blogue Escrita em Dia, do jornalista Carlos Narciso, ainda agora omisso da caixa de comentários.
Se o meu comentário ainda não foi publicado por seu atraso ou distracção, lamento. Mas como acho que é um poste violento cujo conteúdo merece ser debatido, vou então transferi-lo, e às reflexões que ontem me ocorreram sobre o seu conteúdo, aqui para o Herdeiro de Aécio. Essencialmente, como se pode ler abaixo, o poste consiste num panegírico dedicado ao dirigente angolano Lúcio Lara, por ocasião dos seus 80 anos:
O mais velho fez anos, por estes dias. 80 anos, gastos em guerras. Lúcio Lara é o último dos jurássicos do MPLA, um exemplo de dignidade que afronta as vaidades e arrogâncias vigentes. Um homem da craveira de Mandela, um caso raro de desapego ao poder e de verdadeiro sentido de serviço público. Foi perante ele que Agostinho Neto jurou como primeiro Presidente da República de Angola, no dia 8 de Novembro de 1974. (sic)
Lara era secretário-geral do MPLA quando Neto morreu. Foi indicado três vezes para lhe suceder e três vezes disse não. Dizem-me que acabou por ser ele a sugerir o nome de José Eduardo dos Santos, um camarada jovem, politicamente bem preparado, sem anti-corpos entre os que fundaram o partido e se embrenharam na mata na guerrilha contra o colonialismo, condições que Lara julgou essenciais para alguém que iria ter uma dificílima missão pela frente. Zedu foi assim, uma espécie de Cavaco Silva da política angolana. Um subalterno que foi a um congresso para fazer rodagem política e, por via dos acasos, se viu sentado no cadeirão do poder.
O resto da História que se seguiu já todos sabemos. O que não sabemos é como teria sido se Lara tivesse dito sim.
Um panegírico assim pode chegar a tornar-se embaraçoso para quem o lê. Conjuga-se um enorme descaramento com uma boa dose de falta de auto-estima de quem o escreve. Foram coisas que assim, à primeira vista, não associava a Carlos Narciso. Quanto ao conteúdo do mesmo, será por falar de angolanos que ele parece ser mais mal trabalhado e tornar-se mais abjecto no seu servilismo e nos elogios ao destinatário daquilo que é costume?
Comparar Lúcio Lara com Nelson Mandela é apenas um disparate colossal, de fazer doer os dentes. Contar uma história com condimentos bíblicos – Lara terá recusado o poder por três vezes assim como o Pedro da Bíblia renegou Cristo por três vezes antes do galo cantar… – é patético. Embrulhá-la em desapego ao poder, serviço público e altruísmo – é Lúcio Lara quem sugere a ascensão de José Eduardo dos Santos... – é superiormente ridículo.
A verdade mais simples, ultrapassando os constrangimentos da correcção política, é que a ninguém, a começar pelo próprio Lúcio Lara, passaria pela cabeça a viabilidade de eleger um mulato para dirigir Angola ou qualquer outro país africano em 1979… Especula no fim Carlos Narciso como teria sido se Lara tivesse dito sim? Desconfio que ninguém lhe perguntou para que ele dissesse o que fosse, mas tenho alguns palpites fundados como teria sido…
Foi para este caso que resolvi estabelecer unilateralmente a regra das 24 horas. Acho que quem quer estabelecer regras para os outros, também se deve impor a si a de visitar diariamente o seu blogue para verificar se há comentários pendentes de aprovação. Foi o tempo que transcorreu desde que fiz um comentário a um poste do blogue Escrita em Dia, do jornalista Carlos Narciso, ainda agora omisso da caixa de comentários.
Se o meu comentário ainda não foi publicado por seu atraso ou distracção, lamento. Mas como acho que é um poste violento cujo conteúdo merece ser debatido, vou então transferi-lo, e às reflexões que ontem me ocorreram sobre o seu conteúdo, aqui para o Herdeiro de Aécio. Essencialmente, como se pode ler abaixo, o poste consiste num panegírico dedicado ao dirigente angolano Lúcio Lara, por ocasião dos seus 80 anos:
O mais velho fez anos, por estes dias. 80 anos, gastos em guerras. Lúcio Lara é o último dos jurássicos do MPLA, um exemplo de dignidade que afronta as vaidades e arrogâncias vigentes. Um homem da craveira de Mandela, um caso raro de desapego ao poder e de verdadeiro sentido de serviço público. Foi perante ele que Agostinho Neto jurou como primeiro Presidente da República de Angola, no dia 8 de Novembro de 1974. (sic)
Lara era secretário-geral do MPLA quando Neto morreu. Foi indicado três vezes para lhe suceder e três vezes disse não. Dizem-me que acabou por ser ele a sugerir o nome de José Eduardo dos Santos, um camarada jovem, politicamente bem preparado, sem anti-corpos entre os que fundaram o partido e se embrenharam na mata na guerrilha contra o colonialismo, condições que Lara julgou essenciais para alguém que iria ter uma dificílima missão pela frente. Zedu foi assim, uma espécie de Cavaco Silva da política angolana. Um subalterno que foi a um congresso para fazer rodagem política e, por via dos acasos, se viu sentado no cadeirão do poder.
O resto da História que se seguiu já todos sabemos. O que não sabemos é como teria sido se Lara tivesse dito sim.
Um panegírico assim pode chegar a tornar-se embaraçoso para quem o lê. Conjuga-se um enorme descaramento com uma boa dose de falta de auto-estima de quem o escreve. Foram coisas que assim, à primeira vista, não associava a Carlos Narciso. Quanto ao conteúdo do mesmo, será por falar de angolanos que ele parece ser mais mal trabalhado e tornar-se mais abjecto no seu servilismo e nos elogios ao destinatário daquilo que é costume?
Comparar Lúcio Lara com Nelson Mandela é apenas um disparate colossal, de fazer doer os dentes. Contar uma história com condimentos bíblicos – Lara terá recusado o poder por três vezes assim como o Pedro da Bíblia renegou Cristo por três vezes antes do galo cantar… – é patético. Embrulhá-la em desapego ao poder, serviço público e altruísmo – é Lúcio Lara quem sugere a ascensão de José Eduardo dos Santos... – é superiormente ridículo.
A verdade mais simples, ultrapassando os constrangimentos da correcção política, é que a ninguém, a começar pelo próprio Lúcio Lara, passaria pela cabeça a viabilidade de eleger um mulato para dirigir Angola ou qualquer outro país africano em 1979… Especula no fim Carlos Narciso como teria sido se Lara tivesse dito sim? Desconfio que ninguém lhe perguntou para que ele dissesse o que fosse, mas tenho alguns palpites fundados como teria sido…
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