21 fevereiro 2006

A VITALIDADE DOS NÚMEROS

Entre as maiores virtudes criadas por esta blogosfera conta-se a possibilidade de poder aproximar de nós pessoas de notoriedade que, de outra forma, permaneceriam lá, do outro lado, no pedestal da sua verdadeira ou imaginada categoria.

Pode ser um desafio ousado, aterrar na blogosfera e escrever num blogue, sujeito às apreciações ou aos comentários muito peculiares da fauna que por aqui anda. Há quem tenha capitalizado imenso com isso (Pacheco Pereira), quem tenha perdido quase tudo com isso (Medeiros Ferreira) e há os que, como em muitas outras coisas na vida, adoptaram uma atitude flutuante, fingindo que cá andam, vêm de quando em vez, não se expondo, mas reclamando-se do aspecto chique da coisa – há sempre a falta de tempo que justifica tudo (Bettencourt Resendes).

Mas, falando agora dos regulares, forja-se entre eles – anónimos – e os outros – famosos – uma espécie de elo de intimidade que parece distinto de tudo aquilo que é produzido nos meios de comunicação tradicionais.

Deve ser essa espécie de elo que me leva a arriscar a aposta que Vital Moreira nem se deve ter dado conta do ridículo intrínseco do seu artigo de opinião titulado A questão financeira do SNS, publicado no Público de hoje dia 21 de Fevereiro. Chega-se ao fim do mesmo e a questão financeira fica esclarecida (na óptica do autor) sem recurso a um único número. Melhor que ele só Michel Rostovtseff, que conseguiu escrever uma História Económica e Social do Império Romano com 400 páginas e também dela não constava nem um único número…

Eu defendo que as questões financeiras não se resolvem apenas com os números mas suspeito convictamente que a sua resolução se torne muito mais complicada sem o recurso a eles. Ou então, anda a abusar-se do termo financeiro… como era o caso do abuso de Rostovtseff do termo económico.

Só por uma pequena maldade e por contraste, muito gostaria de saber qual seria a reacção de Vital Moreira a um artigo de Medina Carreira ou de Miguel Beleza com o título: A questão constitucional do SNS… (mas cheio de números!)