02 fevereiro 2006

SATURDAY NIGHT FEVER

Este filme foi um dos sucessos de 1977, com a banda sonora dos Bee Gees e aprecie-se na fotografia que acompanha o poste a atitude repleta de estilo de John Travolta, com aquela roupinha jeitosa que o tempo transformou num verdadeiro monumento ao foleiro.

Mas o que é mais impressionante naquele filme é a falta de densidade e de ambição dos seus personagens, verdadeiros filhos da classe operária americana, e para quem a via escapatória daquele meio para os que fossem mais ousados passava pela habilidade de bem dançar.

Reflectindo bem, os dançarinos ficariam uns pontos acima de quem, entre nós, despende a noite de sábado assistindo ao jogo de futebol que passa na Sport TV ou perde o seu tempo a assistir aquela tertúlia interessantíssima que passa na SIC Notícias e que dá pelo nome de Eixo do Mal.

Esta última tertúlia deve ser o momento televisivo mais alto da semana de uma certa maneira de estar, bem portuguesa: maldizente, pretensiosa e afectada. Entrando no detalhe, os primeiros cumprimentos vão para Pedro Mexia que se veio embora após um período de nojo decente. No extremo oposto está uma outra revelação blogosférica, Daniel Oliveira, que tem uma relação com o humor parecida com a que Bianca Castafiore tem com o canto: não tem jeito algum nem ninguém com coragem para lho dizer.

Dos outros três, há o mestre-de-cerimónias, responsável pelo cumprimento da agenda e o casal restante fica encarregado dos comentários que normalmente têm uma fundamentação tão densa como a de uma bolha de CO2 a rebentar à superfície de uma água com gás.

Pensando bem, e apesar de passar num canal que se pretende de informação, o programa enquadra-se perfeitamente naquilo que agora se designa por reality shows, os programas vulgares feitos por gente vulgar. Ou seja, no limite, o Júdice é uma espécie de Zé Maria com interesse pelos assuntos políticos e a Clara Ferreira Alves, uma espécie de Cinha Jardim, mas vocacionada para a literatura.

Posso imaginar naquele dia, àquela hora, outras centenas de tertúlias idênticas, ou talvez melhores, feitas por intervenientes com mais “lastro” e com mais piada. E o facto de não as haver e de os seus potenciais participantes ficarem a assistir na TV a esta, é uma das fatalidades mais tristes das sociedades modernas.