09 fevereiro 2006

ESCUTAS

Para que não fiquemos com a impressão que só nos acontece a nós, também a Grécia anda a conviver com um escândalo de escutas, quando se soube, no princípio deste mês, que os telemóveis de muitos altos responsáveis gregos estiveram sob escuta, durante um período de cerca de nove meses, desde Junho de 2004 até Março de 2005.

A lista dos escutados incluía o próprio primeiro-ministro grego, os ministros dos negócios estrangeiros, defesa, administração interna, justiça e da marinha mercante, vários membros do topo da hierarquia das forças armadas, o presidente da câmara de Atenas, para além de inúmeras outras pessoas sem cargos relevantes na administração grega. Já esta semana, foram adicionados à lista o nome dos chefes da polícia, da segurança dos Jogos – as escutas abrangeram o período em que decorreram os Jogos Olímpicos de 2004 – da luta antiterrorista e dos serviços secretos.

Este menu de personalidades escutadas, conjugado com o facto das escutas terem decorrido debaixo do apoio logístico e através de uma operadora multinacional – a Vodafone – faz apontar para tenha havido mãos americanas por detrás das escutas, muito embora isso agora se mostre difícil de provar, dado que o equipamento de escuta já foi desactivado.

As razões para esta intervenção prender-se-iam com uma certificação redobrada sobre o sistema de segurança instalado para a realização dos Jogos Olímpicos de 2004, mas o assunto afigura-se controverso, para mais quando a culpabilidade americana também se torna conveniente para uma das facções políticas gregas – o PASOK e outras organizações de esquerda, na oposição.

Mas o facto das escutas terem decorrido ao abrigo da operadora multinacional Vodafone pode-nos servir de exemplo tangível da distinção entre os centros de decisão e os centros de competência que o Administrador em Portugal da mesma Vodafone – António Carrapatoso – tem mostrado propensão para confundir.

É que os serviços técnicos gregos da Vodafone foram competentes a instalar os aparelhos de escuta; agora, onde estarão, e que nacionalidade terão, aqueles que decidiram instalá-los?