Está a cair em desuso esta rubrica na página dos passatempos dos jornais. Nunca foi do meu particular agrado, embora ainda me lembro de que em casa dos meus avós não se perdia a oportunidade de concorrer a um Concurso baseado nesse passatempo que era promovido pelo Diário Popular.
Mas o passatempo desta vez é mais (ou talvez menos) subtil e decorre da comparação das intervenções de dois distintos gestores em programas de economia para os quais foram convidados recentemente: António Carrapatoso, na SIC Notícias, ontem, e Henrique Neto, na TSF, hoje.
Não está escrito em lado algum que os gestores de mérito (como de resto, acontece em muitas outras profissões) se distingam pelo domínio da palavra, embora seja de esperar que, por detrás da fachada da forma, melhor ou pior formulada, se consiga distinguir a sustentabilidade do conteúdo do que afirmam e defendem.
E aqui parece-me inequívoco que parecem existir anos-luz de distância entre aqueles dois gestores de nomeada. Não estando de nenhuma forma em causa a capacidade de “saber fazer” de António Carrapatoso, seria de esperar que produzisse um discurso que fosse para além dos lugares comuns de pendor ideológico ultraliberal.
Descodificando o calão de Carrapatoso (da mesma forma que, num sentido distinto, se descodifica o calão de um porta-voz do Partido Comunista), o seu mais recente “rentabilizar os activos”, por exemplo, parece apenas uma forma “refrescada” de mencionar a optimização dos lucros, tão do agrado dos marxistas.
Tentar misturar a questão dos “centros de decisão” com um neologismo como “centros de competência” no debate à volta da sua localização parece esquecer, ou tentar iludir a audiência, que o seu patrão (a Vodafone) pode mandar a sua “competência” para o outro lado do mundo, enquanto procede à fusão da operadora no mercado ibérico ou no mercado mediterrânico ou no mercado latino.
Há outros tópicos cuja veemência de Carrapatoso poderia ser mais moderada sob pena de se poder expor a um certo ridículo. O uso e abuso da palavra “inovação” pode soar um pouco desajustado quando a empresa que dirige opera num mercado maduro e saturado (há 10 milhões de telemóveis) e onde as inovações têm visivelmente vindo a perder importância relativa. O mesmo vale para as considerações sobre a dinâmica das exportações quando a Vodafone é uma (grande) empresa de serviços e não propriamente conhecida pela sua vocação exportadora.
Em contraste, Henrique Neto, beneficiando talvez do facto do entrevistador ser Perez Metelo, falou mais como cidadão que é acessoriamente gestor de uma empresa e também militante do PS. Alertou para uma maior contenção no anúncio dos diversos investimentos que têm vindo a ser sucessivamente anunciados e cuja repercussão económica só se fará sentir a vários anos de distância. E que gastá-los politicamente já no curto prazo pode ser depois contraproducente.
Alertou também para uma maior sobriedade no seu anúncio, publicitando também as contrapartidas de que os investidores beneficiaram. Para que os acordos se tornem mais transparentes.
Finalmente, pronunciando-se sobre a evolução do funcionamento orgânico do governo e do partido, estranhou o recurso por parte de José Sócrates à concentração na sua pessoa de responsabilidades anteriormente atribuídas a outros, perguntando-se se a razão para isso será a falta de confiança ou a ausência de colaboradores com mérito.
Deu para ver as 7 diferenças?
Mas o passatempo desta vez é mais (ou talvez menos) subtil e decorre da comparação das intervenções de dois distintos gestores em programas de economia para os quais foram convidados recentemente: António Carrapatoso, na SIC Notícias, ontem, e Henrique Neto, na TSF, hoje.
Não está escrito em lado algum que os gestores de mérito (como de resto, acontece em muitas outras profissões) se distingam pelo domínio da palavra, embora seja de esperar que, por detrás da fachada da forma, melhor ou pior formulada, se consiga distinguir a sustentabilidade do conteúdo do que afirmam e defendem.
E aqui parece-me inequívoco que parecem existir anos-luz de distância entre aqueles dois gestores de nomeada. Não estando de nenhuma forma em causa a capacidade de “saber fazer” de António Carrapatoso, seria de esperar que produzisse um discurso que fosse para além dos lugares comuns de pendor ideológico ultraliberal.
Descodificando o calão de Carrapatoso (da mesma forma que, num sentido distinto, se descodifica o calão de um porta-voz do Partido Comunista), o seu mais recente “rentabilizar os activos”, por exemplo, parece apenas uma forma “refrescada” de mencionar a optimização dos lucros, tão do agrado dos marxistas.
Tentar misturar a questão dos “centros de decisão” com um neologismo como “centros de competência” no debate à volta da sua localização parece esquecer, ou tentar iludir a audiência, que o seu patrão (a Vodafone) pode mandar a sua “competência” para o outro lado do mundo, enquanto procede à fusão da operadora no mercado ibérico ou no mercado mediterrânico ou no mercado latino.
Há outros tópicos cuja veemência de Carrapatoso poderia ser mais moderada sob pena de se poder expor a um certo ridículo. O uso e abuso da palavra “inovação” pode soar um pouco desajustado quando a empresa que dirige opera num mercado maduro e saturado (há 10 milhões de telemóveis) e onde as inovações têm visivelmente vindo a perder importância relativa. O mesmo vale para as considerações sobre a dinâmica das exportações quando a Vodafone é uma (grande) empresa de serviços e não propriamente conhecida pela sua vocação exportadora.
Em contraste, Henrique Neto, beneficiando talvez do facto do entrevistador ser Perez Metelo, falou mais como cidadão que é acessoriamente gestor de uma empresa e também militante do PS. Alertou para uma maior contenção no anúncio dos diversos investimentos que têm vindo a ser sucessivamente anunciados e cuja repercussão económica só se fará sentir a vários anos de distância. E que gastá-los politicamente já no curto prazo pode ser depois contraproducente.
Alertou também para uma maior sobriedade no seu anúncio, publicitando também as contrapartidas de que os investidores beneficiaram. Para que os acordos se tornem mais transparentes.
Finalmente, pronunciando-se sobre a evolução do funcionamento orgânico do governo e do partido, estranhou o recurso por parte de José Sócrates à concentração na sua pessoa de responsabilidades anteriormente atribuídas a outros, perguntando-se se a razão para isso será a falta de confiança ou a ausência de colaboradores com mérito.
Deu para ver as 7 diferenças?