22 fevereiro 2006

Ó TEMPO VOLTA P´RA TRÁS

Dizem as más-línguas que houve um programa de televisão, faz já bem uns aninhos, ainda a Internet era uma semi-desconhecida, em que o convidado, Marco Paulo, quando questionado por um fã quando apareceria na Internet, respondeu que teria muito gosto em lá ir mas que isso dependeria da oportunidade da Internet em o convidar...

Não podendo assegurar a veracidade do episódio, foi nessa relação difícil entre novas tecnologias e cantores de raiz verdadeiramente popular que pensei quando me vi em enormes dificuldades para descobrir, mais uma vez na Internet, uma fotografia, que, como vêem, acabei por encontrar, do grande fadista António Mourão, o cantor imortal do “Ó tempo, volta para trás/traz-me tudo o que eu perdi…”

E foi para trás que o tempo pareceu voltar quando dei em ler trechos de um comunicado da direcção do PCP, a propósito dos episódios internacionais mais recentes. Para mim, que sou um nostálgico congénito, dá-me sempre um certo prazer ouvir uma espécie de equivalente em vocabulário político a uma gola alta, umas patilhas compridas, uma calça de ganga à boca-de-sino, uma barba cerrada ou um sapato de tacão grosso.

Há naquele comunicado verdadeiras preciosidades de alfarrabista como acções provocatórias, ofensiva mais geral do grande capital e do imperialismo e estratégia de agressão e guerra imperialista. Só é pena que se perceba que, sob a forte pressão ideológica do ultraliberalismo económico, os comunistas ainda não se tenham apercebido que o mundo para o qual aqueles chavões foram criados já não existe.

Na letra de José Gomes Ferreira da famosa Jornada de Fernando Lopes-Graça (Vozes ao Alto! Vozes ao Alto! Unidos como os dedos da mão…) canta-se, a certa altura, que “... até mortos vão ao nosso lado…” Seria escusado é que continuassem a dominar o pensamento do partido…