
O artigo em questão, cuja continuação está prometida para a próxima semana, faz uma descrição cruel de todos os vícios de forma que subvertem o funcionamento interno de um partido, desde a arregimentação de militantes, passando pelo pagamento das suas quotas, a viciação dos seus dados pessoais, ou uma constante permuta venal de favores.
No entanto, quando, aproveitando o e-mail que enviei a JPP, felicitando-o pelo referido artigo, lhe perguntei o que é que ele, pessoalmente, tinha feito para contrariar tal estado de coisas quando presidiu à distrital de Lisboa do PSD, aproveitei para me sentar, porque tinha a intuição que conviria esperar sentado pela resposta, para não me cansar. E não estava enganado, pelo menos até à altura que escrevo.
Nos antípodas da excelência analítica de JPP estará, por exemplo, um seu companheiro do PSD, o demissionário presidente da distrital do Porto, Marco António Costa (MAC). A sua prestação televisiva no início da semana, sustentando as causas da sua demissão numa pequena alteração dos estatutos que passa a impedir um militante do PSD de pagar as quotas de companheiros seus, tornou-se patética de tão ridícula.
As razões invocadas passaram pela dificuldade que um militante teria em pagar a impressionante quantia da quota de 1 euro mensal até chegarem ao facto preocupante do militante poder não ter cartão Multibanco para efectuar o pagamento. Uma argumentação desoladora…
O PSD pode assim ser descrito pelo contraste entre este Ying, que sabe argumentar e analisar mas que encaixa como uma luva no estereótipo do boneco de Ricardo Araújo Pereira – eles falam, falam, falam, mas não os vejo a fazer nada… – e o outro Yang, que organiza as eleições, elege os delegados, trata dos financiamentos, resolve enfim os problemas concretos mas que não consegue articular três seguidas de jeito – talvez seja por cauda disso que Luís Filipe Meneses faça figura de intelectual lá no meio…
Extrapolando do PSD para o país, há um Portugal que adora a obra feita. Mas já percebeu que só por aí não se vai lá. Há outro Portugal que só compreende a argumentação devidamente estruturada. Mas também já tomou consciência que isso não pode ser um fim em si mesmo. Terá que ser qualquer coisa a um meio caminho: um JPP que saiba fazer coisas e um MAC que tenha ética nas coisas que faz.
E, ás vezes, em circunstâncias como as que atravessamos, já é muito importante sabermos o que queremos.