22 fevereiro 2006


UMA ESTÓRIA

Embora, seja costume que esta nota figure no fim e não no princípio, julgou-se conveniente adiantar que esta é uma narrativa ficcionada, qualquer semelhança com a realidade será resultado de uma mera coincidência.

Imaginemos que num qualquer país vizinho ao nosso, há um grupo de interesses, representando sobretudo capitais de origem…, por exemplo catalã, predominantes numa empresa que designaremos por… Gás Natural, resolve lançar uma OPA sobre uma outra empresa do sector da energia, assim com um nome como… Endesa, onde os accionistas de referência poderão estar associados a capitais de origem…, sei lá, castelhana.

Nesse hipotético cenário, conjugar-se-iam factores de cariz político interno desse país vizinho imaginário aos de cariz económico, o que levaria o governo central a um estado de indecisão sobre a forma como conduzir o processo: Autorizá-lo? Proibi-lo? Condicioná-lo de uma forma imaginativamente espanhola (Oops!)?

Entretanto, numa outra cidade europeia qualquer, onde o Tintin teria nascido, poderão aparecer uns outros senhores, mostrando-se preocupados com a posição dominante no sector energético daquele país da empresa resultante da concentração das duas envolvidas, de que resultaria um quase monopólio.

Convém entrementes explicar que monopólio é um palavrão muito feio; quando se procura insultar a PT portuguesa, por exemplo, diz-se que ela tem um monopólio e pratica os preços que quer. O que é moderno, está a dar e contenta os senhores da terra do Tintin, é existir um oligopólio com 3, 4 ou 5 operadores, sempre em animada concorrência entre si, com a vantagem de competir à autoridade reguladora provar que há concertação dos preços – o que é tramado como o caraças!

Regressando à nossa estória original, bastante enovelada estava ela quando, de repente, uma senhora que manda lá numa terra onde não se ri e se bebe muita cerveja, telefona ao chefe do governo do nosso país vizinho imaginário para lhe anunciar que há uma empresa do país dos bebedores de cerveja que vai lançar uma contra OPA (oferecem mais dinheiro) sobre a tal Endesa castelhana.

E porque é que a senhora se lembrou de telefonar? Possivelmente para avisar o tal chefe de governo para não se porem com truques baixos e neutralizarem por vias judiciais a tal proposta dos seus compatriotas. E o tal chefe de governo terá gostado de receber o telefonema? Nem por isso, creio, porque poderá mostrar desconfiança e que existe uma reputação dos nossos vizinhos imaginários como especialistas em golpes baixos jurídicos em situações similares.

Finalmente, porque é que tudo isto pode acontecer? Isto só acontece porque a tal senhora que manda lá na terra dos bebedores de cerveja não segue a SIC Notícias nem a RTP2 onde, nos magazines de economia, tanto o Sérgio como o Martim, directores de jornais económicos, se encarregam de nos explicar a pureza do mercado e as virtudes de o deixar funcionar à vontade…