Na guerra de informação (ou de propaganda) que anda a ser travada por causa dos cartoons do jornal dinamarquês e das reacções nos países muçulmanos aos cartoons do jornal dinamarquês, tem-se assistido a um lançar de pedras alternado dos dois lados, com o intuito de chamuscar a reputação da parte adversa.
Anteontem, descobriu-se que a publicação das famosas caricaturas ocorrera há quatro meses e meio, em Setembro, o que tornava questionável a oportunidade da manifestação de tanta indignação depois de tanto tempo decorrido após os acontecimentos.
Ontem, descobriu-se que o jornal dinamarquês já recusara anteriormente publicar caricaturas de conteúdo anticristão, o que provava que a sua direcção estava perfeitamente ciente da contestação que poderia causar a publicação de cartoons de carácter anti-religioso.
Hoje, descobre-se que algumas das controversas caricaturas haviam sido publicadas num jornal egípcio, tendo passado desapercebidas. Mas apareceu uma outra novidade, substancialmente muito mais importante do que a pequena troca de galhardetes que, no fundo, as outras notícias constituíram.
Assim, as manifestações de repulsa nos países islâmicos teriam vindo a ser organizadas desde Dezembro, depois da realização de uma Conferência Islâmica realizada na Arábia Saudita, que até teria contado com a presença do presidente iraniano, e onde o assunto teria sido abordado a pedido de clérigos oriundos da Europa, nomeadamente da Dinamarca.
A primeira diferença substantiva que esta notícia trás é que o patrocínio das manifestações, até agora, havia sido atribuído às correntes radicais do islamismo. Ora é muito razoável admitir que uma Conferência Islâmica não seja nenhum fórum de radicais, antes uma Assembleia formada por ponderados membros do clero – à semelhança do que será uma Conferência Episcopal da Igreja Católica. Conservadores, sim, reaccionários, provavelmente, mas não radicais.
A outra diferença substantiva vem do comportamento dos clérigos islâmicos europeus que, descontentes com a condução do problema segundo as normas vigentes na Europa, vêm colocá-lo num outro fórum, que esteja mais de acordo com as suas convicções. Até pode ser defensável que o faça mas não será surpreendente que esse comportamento possa facilmente vir a ser considerado como o equivalente a uma espécie de uma quinta coluna islâmica na Europa.
Passado todos estes dias de manifestações, parece também tornar-se evidente que o controlo do povo das ruas, os soldados que se manifestam e atacam as embaixadas e os interesses ocidentais, é fraquíssimo. Os acontecimentos tendem a descontrolar-se facilmente, como se viu, aliás, recentemente, com os confrontos recentes entre sunitas e xiitas, a propósito das celebrações religiosas destes últimos.
Mas, para além das manobras de geopolítica pura e dura, onde há países islâmicos que talvez necessitem de passar ao contra-ataque para sacudir a pressão que possa estar a ser exercida sobre eles por parte de países ocidentais – a Síria ou o Irão são candidatos evidentes -, retenha-se que, a fazer fé nestas últimas notícias, não são radicais fundamentalistas os que estão por detrás deste movimento de contestação aos cartoons dinamarqueses, assim como não são os radicais fundamentalistas da defesa dos direitos humanos* aqueles que defendem o direito de os publicar.
E é isso que confere muito mais seriedade e preocupação à disputa em curso.
* Sabia que há uma Declaração Islâmica Universal dos Direitos do Homem?
Anteontem, descobriu-se que a publicação das famosas caricaturas ocorrera há quatro meses e meio, em Setembro, o que tornava questionável a oportunidade da manifestação de tanta indignação depois de tanto tempo decorrido após os acontecimentos.
Ontem, descobriu-se que o jornal dinamarquês já recusara anteriormente publicar caricaturas de conteúdo anticristão, o que provava que a sua direcção estava perfeitamente ciente da contestação que poderia causar a publicação de cartoons de carácter anti-religioso.
Hoje, descobre-se que algumas das controversas caricaturas haviam sido publicadas num jornal egípcio, tendo passado desapercebidas. Mas apareceu uma outra novidade, substancialmente muito mais importante do que a pequena troca de galhardetes que, no fundo, as outras notícias constituíram.
Assim, as manifestações de repulsa nos países islâmicos teriam vindo a ser organizadas desde Dezembro, depois da realização de uma Conferência Islâmica realizada na Arábia Saudita, que até teria contado com a presença do presidente iraniano, e onde o assunto teria sido abordado a pedido de clérigos oriundos da Europa, nomeadamente da Dinamarca.
A primeira diferença substantiva que esta notícia trás é que o patrocínio das manifestações, até agora, havia sido atribuído às correntes radicais do islamismo. Ora é muito razoável admitir que uma Conferência Islâmica não seja nenhum fórum de radicais, antes uma Assembleia formada por ponderados membros do clero – à semelhança do que será uma Conferência Episcopal da Igreja Católica. Conservadores, sim, reaccionários, provavelmente, mas não radicais.
A outra diferença substantiva vem do comportamento dos clérigos islâmicos europeus que, descontentes com a condução do problema segundo as normas vigentes na Europa, vêm colocá-lo num outro fórum, que esteja mais de acordo com as suas convicções. Até pode ser defensável que o faça mas não será surpreendente que esse comportamento possa facilmente vir a ser considerado como o equivalente a uma espécie de uma quinta coluna islâmica na Europa.
Passado todos estes dias de manifestações, parece também tornar-se evidente que o controlo do povo das ruas, os soldados que se manifestam e atacam as embaixadas e os interesses ocidentais, é fraquíssimo. Os acontecimentos tendem a descontrolar-se facilmente, como se viu, aliás, recentemente, com os confrontos recentes entre sunitas e xiitas, a propósito das celebrações religiosas destes últimos.
Mas, para além das manobras de geopolítica pura e dura, onde há países islâmicos que talvez necessitem de passar ao contra-ataque para sacudir a pressão que possa estar a ser exercida sobre eles por parte de países ocidentais – a Síria ou o Irão são candidatos evidentes -, retenha-se que, a fazer fé nestas últimas notícias, não são radicais fundamentalistas os que estão por detrás deste movimento de contestação aos cartoons dinamarqueses, assim como não são os radicais fundamentalistas da defesa dos direitos humanos* aqueles que defendem o direito de os publicar.
E é isso que confere muito mais seriedade e preocupação à disputa em curso.
* Sabia que há uma Declaração Islâmica Universal dos Direitos do Homem?