11 novembro 2022

MAIS UMA REACÇÃO DOS «MERCÁDOS»...

Aparentemente, passou de moda complementar a apreciação dos fenómenos políticos recém acontecidos com a reacção das bolsas de valores. Data dessa época a pronúncia da palavra «mercádos», com a sílaba central pronunciada com o a bastante aberto, reforçando pela pronúncia a sua «personalidade» própria - a dos «mercádos», entenda-se... Assim, naquele figurino, a história tradicional era que o eleitorado havia votado num sentido, mas os «mercádos» haviam castigado o eleitorado com uma quebra em bolsa nos dias seguintes, induzindo o leitor desatento a considerar os dois fenómenos em pé de igualdade. Assim, os escrutínios de algumas votações populares valeriam (quase) o mesmo que os indexes de algumas sessões bolsistas... Entretanto, a prática parece ter passado de moda, entre outras razões porque os «mercádos» nem sempre «reagem» a contento da narrativa de quem os quer invocar na defesa de uma tese em que o povo é geralmente estúpido, e que a verdadeira inteligência se deve aferir pelos investidores profissionais e respectivos operadores de bolsa. Passou de moda... e não passou. Aprecie-se o exemplo recentíssimo de uma prometida reconquista das duas câmaras do legislativo norte-americano pelos republicanos em consequência das eleições intercalares, episódio esse que foi crismado em antecipação por red wave, onda essa que, tanto quanto prometida pela comunicação social norte-americana, também veio a ser propagandeada por alguns pategos locais (abaixo, a página de facebook de um desses pategos). A importância da red wave não advinha da cor da onda (vermelho é a cor dos republicanos), mas do facto da vitória dos republicanos representar uma desforra da facção trumpista dentro daquele partido. Só que não houve red wave, o mar ficou flat, para adoptar uma expressão dos surfistas. E os pategos desengalanaram as páginas do facebook logo no dia seguinte. Em 24 horas, red wave tornou-se uma expressão proscrita. Mas não só isso. Os «mercádos» parecem ter acolhido essa calmaria das águas positivamente, aprecie-se acima a subida brusca do índice bolsista Dow Jones, em linha com os restante índices bolsistas americanos. Aconteceu, mas por esta vez ninguém se lembrou de ligar o fenómeno à esta espécie de derrota do trumpismo, vá-se lá saber porquê...

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