20 novembro 2022

MAIS UM «MOMENTO ARTUR BAPTISTA DA SILVA»

Durante o dia de ontem e através das redes sociais tivemos o gosto de reviver mais um Momento Artur Baptista da Silva. Artur Baptista da Silva, recorde-se, era aquele aldrabão que em Dezembro de 2012 se fazia passar por consultor da ONU e que, com isso e porque o que dizia agradava a quem se opunha às medidas governamentais, teve os seus quinze minutos de fama quando conseguiu endrominar o jornalista Nicolau Santos e aparecer na televisão a perorar como se tivesse autoridade naquilo que dizia. Poucos, e eu conto-me entre eles, prestaram uma verdadeira atenção ao que o Artur dizia e cruzaram aquilo que ele dissera com a informação disponível. Quem o fizesse, pelo menos desconfiava de imediato do consultor. Ficou o episódio, mas não ficou a lição.

A aldrabice de ontem é de autor desconhecido, mas possui a autoridade de ter aparecido sustentada em documentos: uma factura. Em síntese, trata-se da realização de um pequeno almoço comemorativo do centenário de José Saramago, que se realizou num restaurante de luxo da capital e que contou com a presença da viúva do escritor, do primeiro-ministro, do actual ministro da Cultura e de um antigo ministro dessa mesma pasta. E que foi fixado pelo restaurante onde se realizou por uma pequena entrada alusiva com fotografia. Entrada essa que começou a circular pelas redes sociais acompanhada de uma factura de almoço cuja data coincidia - 16 de Novembro (acima, à esquerda). O escândalo era o montante dessa factura: um almoço para quatro pessoas que ficara em €9.400! E a montagem das duas imagens foi oportunidade de dar roda livre à indignação! Até mesmo irónica. Como escrevia o autor do tweet acima: «vamos ajudar o Pedro Adão e Silva a pagar o pudim flan com dignidade».
Quase ninguém escrutinara o que o bom do Artur Baptista da Silva dizia, quase ninguém quis olhar com atenção para o conteúdo do almoço. É o que fazem as pessoas inteligentes. E essas constatam que o prato principal da refeição dos comensais daquela mesa (cuja conta foi tirada quase às 17H00!) terá sido um caranguejo com quase 6 kgs(!), regado por três garrafas de vinho tinto de Bordéus, mas dos de rótulos famosos e a preços correspondentes a essa fama. De resto, o vinho (tinto!?), deixemos de parte qualquer comentário sobre a propriedade de acompanhar este género de marisco a vinho tinto(...), esse vinho representa 85% do valor total da factura. Ou seja, sem mais delongas e sem nos determos em outros pormenores, concluamos o que é óbvio: que aquela factura é de um almoço de quatro pessoas com muito mais dinheiro do que sofisticação. É preciso uma dose elevadíssima de ignorância, negligência e estupidez para imaginar aqueles quatro comensais da foto acima a emalar em média quilo e meio de caranguejo empurrados com ¾ de uma garrafa de vinho tinto, para além de outros acepipes, que os fizeram estar à mesa até à hora do lanche!

Apesar disto tudo, a indignação daqueles que comentavam esta maneira como se gastam os nossos impostos subsistiu em crescendo durante quase todo o dia de ontem, com os desmentidos a serem acolhidos com cepticismo, até ao restaurante em causa afixar à noite uma entrada adicional (acima, à direita) em que desmente que a factura houvesse correspondido ao almoço em que o primeiro-ministro participara. Para mim, a desforra está a acontecer agora! São os expedientes que, nas redes sociais, as pessoas - e foram tantas! - que endossaram toda esta estupidez estão agora a construir explicações para não se reconhecerem estúpidas. É uma ilusão que têm direito a manter... já que nada aprenderam com o que aconteceu em 2012: nunca foi o Artur Baptista da Silva a mostrar-se superiormente sofisticado e inteligente; o auditório para o qual ele actuava é que era - e continua a ser - particularmente estúpido!

Adenda: agora descubro que aparece a mesma factura, a mesma indignação, só que agora vocacionada para o mercado brasileiro, tendo Lula como alvo. Se calhar, deve ser isto que se entende por energias renováveis...

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