16 agosto 2017

OS LOUROS DE CÉSAR (10)

Convém comentar que, se a táctica de Obélix de há duas pranchas - entrar pelo palácio de Júlio César e partir aquilo tudo até encontrar a coroa de louros - parecia ser de uma simplicidade infantil, este plano de Asterix não estará desprovido das suas críticas. Tornarem-se escravos para entrar no referido palácio deixa por explicar como é que posteriormente vão recuperar a sua alforria. No entretanto, realce-se do quanto esta página é marcante pela sua amoralidade: o comércio de escravos é retratado como se se tratasse de um outro negócio qualquer, um mercado com pregões e em que há casas selectas que se distinguem pela sobriedade do seu mostruário. A mercadoria não sai embrulhada, mas pode sair acorrentada. O produto diferencia-se pela origem - Tifus promove «um lote de bretões, acabado de chegar». Lembrei-me muitas vezes das imagens desta página quando do apogeu da promoção dos gurus locais do liberalismo, há uma meia dúzia de anos. Por eles, não havia razão para nos condoermos por aqueles que estavam no sopé da sociedade.

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