11 de Agosto de 1942. Na edição de há 75 anos do diário colaboracionista francês Le Matin, há um aviso quase que perdido entre as várias notícias da Segunda Guerra Mundial em curso. As notícias têm aquela objectividade que um publisher como José Manuel Fernandes lhes conferiria, no caso de ter optado por torcer pelos alemães, mas o aviso vai muito para além daquilo que se possa ter já lido no Observador.
«Mau grado as sucessivas advertências, a calma foi de novo perturbada em diversos pontos da França ocupada. Atentados foram cometidos contra soldados alemães por terroristas comunistas a soldo da Inglaterra.
Conforme o que já fora anunciado por diversas vezes, foram adoptadas as medidas mais severas para responder a cada atentado. Por consequência, fiz fuzilar 93 terroristas de que havia o convencimento de terem cometido actos terroristas ou de serem seus cúmplices.
Convido a população francesa, no seu próprio interesse, a ajudar, através de uma vigilância extrema, à descoberta das maquinações terroristas, sem o que serei obrigado a adoptar medidas de que toda a população virá a sofrer.
Der Hoehere SS Und Polizeifuehrer In Bereich Des Militaerbefehlshaber In Frankreich»
Conhecido o conteúdo, impressiona a discrição jornalística como o aviso foi tratado, como se de uma casualidade se tratasse. O jornal não o diz, mas os fuzilamentos das 88 (e não 93, alguns perdões de última hora...) pessoas, que haviam sido detidos a diversos títulos e em diversas circunstâncias pelas autoridades militares alemãs, tiveram lugar na fortaleza de Mont-Valérien, que se situa nos arredores de Paris. Estas execuções de 11 de Agosto de 1942 foram apenas mais um «lote» de execuções naquele local, cujo total veio a ultrapassar o milhar ao longo dos quatro anos de ocupação alemã (1940-44). Hoje existe ali um memorial com os nomes de todo esse milhar de executados.
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