A edição do telejornal da hora de almoço da SIC esta Sexta-Feira incluiu uma notícia que já viera pré-cozinhada da CNN, onde se falava de um padre que, há 40 anos, militara no KKK e que agora se mostrava muito arrependido. A televisão clássica, sem a indignação das redes sociais a matizá-la, tem destas coisas: dizem-se uns disparates colossais e a audiência não tem direito a retorquir: Há 40 anos? E depois? Se voltarmos ao passado e virmos como era Portugal em 1977, teríamos que obrigar não sei quantas figuras públicas a penitenciarem-se de forma ainda mais sentida do que este padre que ontem ninguém sabia quem era. Lá pelos mesmos domínios das extremas direitas que tanto penalizam agora o sacerdote, podemos ir buscar o exemplo de Nuno Rogeiro, que pertencia a uma coisa pouco recomendável chamada Movimento Nacionalista, ou então José Miguel Júdice, de convívio próximo com uma outra organização clandestina de direita denominada MDLP que se notabilizava por, de quando em vez, recorrer ao argumento das bombas; e, do lado oposto das extremas esquerdas, podemos evocar os exemplos de António Vitorino, co-autor de um interessante texto de análise política de uma organização desconhecidíssima que tive oportunidade de reproduzir aqui há uns dias neste mesmo blogue, ou então José Manuel Fernandes (que viagem de circum-navegação!), que por esses anos se afadigava com as edições de A Voz do Povo, que era o jornal do partido político mais à esquerda do parlamento da altura, a UDP.
A sério: imaginam qualquer uma daquelas quatro figuras (ou figurões?) públicas a penitenciarem-se publicamente por aquilo que defenderam há quarenta anos? Não, pois não? Então o que é que nos interessa agora a conversa arrependida do padre, ainda por cima, lá na América?...
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