Para os que não se interessam por rugby isto não terá interesse nenhum, mas uma certa Inglaterra está em estado de ultraje por causa do que aconteceu ontem durante a primeira parte do jogo Inglaterra - Itália do Torneio das Seis Nações. Os italianos apresentaram uma inovação táctica, com a qual tentaram contrariar a mais do que previsível superioridade dos ingleses. E foram momentaneamente bem sucedidos: no final da primeira parte a Itália vencia surpreendentemente por 10-5. Depois de os ingleses rectificarem posições ao intervalo, adaptando-se ao novo estilo de jogo dos italianos, deram a volta ao resultado e vieram a vencer por 36-15. Para os mais interessados e simplificadamente, a inovação italiana consistiu em, depois da realização de uma placagem bem sucedida, não contribuir para a formação espontânea que se lhe costuma suceder, atitude que altera a localização da linha de fora de jogo e possibilita que os seus jogadores possam interferir nas linhas de passe da bola do adversário. Mas o mais interessante de todo o episódio foram as reacções ultrajadas dos ingleses no fim do jogo de que a imprensa - até mesmo uma revista tão respeitável e fleumática quanto a The Economist - se fez eco (acima). Claro que aquele padrão dramático se cinge aos ingleses. Quando se consulta a imprensa irlandesa a esse respeito - um bom exemplo, por ser redigida na mesma língua - o tom é diferente, entre o trocista e o irónico, realçando a atitude desconcertada dos jogadores ingleses durante a primeira parte do jogo, as impressões que eles trocaram com o árbitro francês e a resposta sibilina deste último a um pedido desesperado de instruções: «Não sei dizer. Sou um árbitro, não um treinador.» Claro que os ingleses têm total razão quando dizem que o expediente italiano nasceu da exploração de um vazio legal nas regras do jogo. Mas o que é verdadeiramente antipático é a arrogância despeitada dos ingleses quando profetizam para reforço do argumento o matar do jogo e apelam à rápida alteração das regras do mesmo, como se a legislação sobre as regras do rugby se tratasse de um assunto de propriedade própria. E mais do que isso, nem é óbvio que possam ter razão, recorde-se como alguns aspectos mais espectaculares de algumas modalidades nasceram originalmente da exploração desses vazios legais: é o caso evidente do jogo de cabeça no futebol...
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