02 fevereiro 2017

O CENTENÁRIO DA GUERRA SUBMARINA TOTAL

Há precisamente cem anos, e depois de meses de acesos debates internos, a Alemanha decide-se finalmente a lançar a guerra submarina total, gesto que permitirá que os comandantes da frota de 111 submarinos (com que contava então a Armada imperial alemã) afundassem os navios mercantes que encontrassem sem qualquer aviso prévio. O poder político fizera sentir ao poder militar (cada vez mais autónomo) que a decisão acartaria consigo a degradação das relações diplomáticas com países neutrais, nomeadamente os Estados Unidos, e mesmo a elevada possibilidade de que estes declarassem guerra à Alemanha. Os altos comandos alemães da Marinha e do Exército mostravam-se confiantes de que a guerra submarina estrangularia o comércio externo britânico em cinco meses, muito antes do período esperado para que os Estados Unidos conseguissem mobilizar a máquina de guerra e intervir de forma significativa na Europa, algo que os alemães previam que não aconteceria antes de uns dois anos.
Entretanto, antes que isso acontecesse e com o Reino Unido neutralizado pelo cerco submarino que agora seria montado, a Alemanha contava dispor dos meios militares para vencer a guerra contra os outros dois seus grandes inimigos: a França e a Rússia. O futuro veio a demonstrar que, embora os cálculos quanto à capacidade de mobilização dos Estados Unidos se mostrassem acertados, as estimativas quanto à eficácia da arma submarina para que esta neutralizasse a autonomia económica e militar do Reino Unido haviam sido grosseiramente sobrestimadas. Mas isso não se sabia ainda e, para mais, passado pouco mais de um mês, a jogada estratégica de alto risco que acabara de ser desencadeada pelos generais e almirantes alemães iria receber um bónus inesperado com a eclosão da primeira Revolução russa. Com ela, a capacidade combativa dos russos foi-se degradando e, passados os tais cinco meses, em vez do Reino Unido era a Rússia que dava todos os sinais que abandonaria o conflito.
Na perspectiva da Alemanha, nos finais de 1917 e para utilizar um ditado tipicamente português, «Deus escrevera direito por linhas tortas» - não eliminara da guerra o grande adversário que visaram mas, ao menos, eliminara um outro grande adversário. A Guerra ir-se-ia decidir no Ocidente e já se escoara cerca de metade do tempo que os alemães estimavam que os americanos demorariam a edificar a sua poderosíssima máquina militar.

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