07 fevereiro 2017

A INTELIGÊNCIA AO SERVIÇO DO JORNALISMO

Em 1973, o Expresso, jornal onde então trabalhava o actual presidente da República, veio a adoptar um procedimento para informar os seus leitores que algum artigo de conteúdo mais polémico fora objecto de cortes significativos por parte da censura. Neste exemplo acima de um artigo de Francisco Sá Carneiro sobre os critérios para o recenseamento dos eleitores, que foi publicado em Novembro de 1973, já depois das eleições legislativas a que a ANP acabou por concorrer sozinha, a intensidade do corte a que o artigo fora sujeito pode ser medida pela dimensão da falsa publicidade promocional: Expresso - um jornal para saber ler. Era um expediente inteligente dirigido a leitores que se suporia serem inteligentes para decifrar a mensagem inclusa. Se calhar não o eram, o que havia era vergonha em o confessar. Nunca se saberá se os leitores de então do Expresso teriam a inteligência suficiente para acompanhar os expedientes rebuscados dos seus jornalistas, mas reconheça-se que o Mundo já terá dado muitas voltas e que a inteligência que se exige actualmente aos jornalistas já não é aquela que fora, quando ontem se viu a Agência Lusa a reproduzir pelo seu valor facial um comentário entre o mordaz e o irónico de Marcelo Rebelo de Sousa. Depois de Expresso - um jornal para saber ler passámos para uma época de Observador - uma notícia para saber escrever?

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