08 dezembro 2009

NETWORK

Se há filmes para os quais se tornou moda usar a classificação de sobreavaliados (trata-se de uma tradução literal da expressão inglesa overrated(*)), há outros que este crítico considera underrated (subavaliados): um exemplo é Wag the Dog (Manobras na Casa Branca), de que já aqui falei há uns tempos atrás; outro exemplo é Network (Escândalo na Televisão), que veio até a conquistar 4 Óscares em 1977.
As razões para eles serem assim tão subavaliados será porque ambos questionam (e criticam) com seriedade e substância a televisão em geral e a informação televisiva em particular. Ora como é a própria televisão o meio de difusão dos filmes depois de eles saírem do seu circuito comercial primário (Network data de 1976 e Wag the Dog de 1997) é compreensível que a predilecção das televisões se concentrem em Rocky ou Titanic(**).
Network conta a história de Howard Beale, um apresentador televisivo com problemas pessoais sérios que, quando lhe comunicam que o vão despedir por causa das baixas audiências – um conceito que, na época de estreia não fazia, mas agora faz sentido em Portugal – aproveita um directo para anunciar isso publicamente mas que, antes disso acontecer, se irá suicidar ao vivo em pleno programa. Os espectadores parecem adorar a ideia…
… e as audiências sobem a ponto da direcção lhe conceder um novo programa onde Beale recebe permissão para dizer as maiores bojardas que lhe passarem pela cabeça, incluindo uma que ele convida a audiência a repetir em casa: – Estou chateado como o caraças e não estou disposto a aturar mais isto!(***) E a audiência repete… No fim, Beale não se suicida mas é assassinado (em directo!) quando começa a denunciar coisas mesmo importantes…
Hoje, ao ler uma notícia sobre os gravíssimos problemas financeiros e sociais por que está a passar a Grécia, lembrei-me de alguém que, pelo seu tremendismo, facilmente poderíamos associar ao estilo Howard Beale (acima), e ao terrível dilema que se poria a Medina Carreira, caso ele fosse grego… Perante aquilo que ele já disse sobre Portugal, o que lhe restaria fazer por coerência e proporção seria suicidar-se em directo na sua próxima aparição na TV...
(*) Como aqui, aqui ou aqui.
(**) Para escolher outros dois filmes que sejam também de 1976 e de 1997.
(***) I'm as mad as Hell, and I'm not going to take this anymore!

4 comentários:

  1. Parece que o Miguel Urbano tem uma explicação para isso no seu artigo OS ESQUECIMENTOS DE MEDINA CARREIRA, do http://www.resistir.info

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  2. Fui ler o artigo para onde nos remete, António Marques Pinto, e lamento desapontá-lo, mas parece-me que só parece ter a tal explicação…

    É que se sob o modelo capitalista a nossa economia não cresce, o modelo socialista estatal que lá está descrito afundou-se para aí há uns 30 anos...

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  3. Uma vez, logo a seguir à extinção do bloco soviético , perguntei a Álvaro Cunhal como via a questão do modelo socialista depois dos acontecimentos da URSS. Respondeu-me que não deveria haver precipitações quanto a formular modelos - as palavras não seriam exactamente estas mas creio que traduzo a ideia.

    Compreendi então que aquilo que eu entendo por modelo - o modelo teórico - não é o que outros entendem; que, uma vez mais, nem sempre falamos das mesmas coisas quando usamos as mesmas palavras.

    Talvez por isso Sílvio Rodriguez pergunta numa canção "que cosa es el comunismo"...

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  4. Acredito que essa pergunta tenha surgido a Silvio Rodriguez nalguma outra circunstância que não a da leitura das propostas de Miguel Urbano para onde me remeteu, António Marques Pinto.

    A mim surgiram-me perguntas diferentes no meio de um suspiro saturado, qualquer coisa traduzida pela ideia: - Oh não, tudo de novo outra vez?! Em que trecho da história é que ele terá perdido a compreensão do enredo?

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