07 dezembro 2009

GRANADA E LÍBANO EM OUTUBRO DE 1983

O equivalente norte-americano à Guerra Anglo-Zanzibar de 1896 do poste anterior terá sido a Invasão de Granada em Outubro de 1983. O governo granadino incorreu num trilho ideológico que desagradava a Washington e, sobretudo, os Estados Unidos necessitavam de uma operação militar no estrangeiro que os reconfortasse depois do fiasco com que terminara a Guerra do Vietname (Abril de 1975), depois do fiasco da operação de resgate dos reféns norte-americanos aprisionados em Teerão (Abril de 1980) e do recentíssimo (48 horas) fiasco do ataque terrorista aos aquartelamentos do destacamento de Marines em Beirute, no Líbano (23 de Outubro de 1983), que acabara de lhes custar 241 mortos.
Neste caso da Invasão de Granada, os riscos quanto ao desfecho da Operação (que foi baptizada de Fúria Urgente) eram, por assim dizer, inexistentes: os invasores possuíam uma superioridade de 5 para 1 em efectivos e talvez de 25 para 1, senão mesmo mais, em potencial de combate. Mas, diferente do que aconteceu em Zanzibar, mais do que a celeridade com que a operação terá decorrido, o que veio a tornar-se histórico nela foi o cuidado com que os militares controlaram, com sucesso e pela primeira vez, o acesso à informação. Sendo uma ilha e tendo estabelecido um bloqueio naval em seu redor, só através deles é que, dessa vez, todos aqueles grandes órgãos de informação tiveram condições de informar a opinião pública.
De Granada não haverá nenhuma daquelas típicas fotografias instantâneas que marcaram a Guerra do Vietname, nem depoimentos individuais muito desalinhados com os relatórios oficiais da operação. Mesmo actualmente, aquilo que se pode ler sobre a invasão é parcialmente inverosímil: que os combates terão durado vários dias (!) e que se saldaram pela morte de 19 militares norte-americanos versus 45 granadinos e 25 cubanos (era indispensável mostrar a presença de forças cubanas…), além de um número indeterminado de civis (24+). Mas o mais importante foi que o que (não) esteve a acontecer em Granada esteve a servir para abafar mediaticamente as operações para desenterrar os 241 mortos de Beirute (abaixo).
Ficou a lição aprendida. Presentemente, para qualquer operação militar que os norte-americanos realizem no exterior, o importante não será tanto o que se passou ou estará a passar no terreno, porque o fundamental é a gestão de como a sua opinião pública doméstica é alimentada. É assim que a intervenção dos Estados Unidos na Somália (Dezembro de 1992 a Maio de 1993) pode ser apresentada como um sucesso! E é essa gestão que se terá tornado a preocupação principal das próprias forças armadas norte-americanas quando elas se envolvem em situações delicadas no exterior – Iraque, Afeganistão, Balcãs, Iraque… – sabendo-se que, como regra, a opinião pública só aguenta com um Teatro de Operações de cada vez…
Agora calhou a vez do Afeganistão, que foi debatido como se se tratasse quase de uma novidade... embora dure já há oito anos!

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