– Vá, cão, prepara o plano de uma nova campanha e trata de manter a cabeça entre os ombros! A frase data do Século XVII, terá sido proferida pelo Sultão Maomé IV e era dirigida ao seu Grão-Vizir, mas o despotismo e a ameaça nela contidas retratarão perfeitamente o ambiente que se vivia nos círculos chegados a Estaline durante os anos das purgas, na segunda metade da década dos anos 30. Só podemos tentar adivinhar os sentimentos contraditórios que terá sentido Filip Ivanovich Golikov (1900-1980) quando, em Julho de 1940, se viu nomeado como o novo director dos famosos Serviços de Informações Militares (GRU), o organismo responsável pela espionagem soviética.
O panorama não parecia animador… Dava-se a coincidência de todos os antecessores de Golikov naquele cargo, a começar pelo histórico fundador Ian Berzin e a acabar no predecessor imediato Ivan Proskurov, tinham acabado fuzilados… Restava a Golikov acreditar na sua boa Estrela – Vermelha, pois além de militar e até mais do que militar (ao contrário de muitos dos seus camaradas que se haviam filiado por razões práticas), Golikov considerava-se um comunista devotado. O novo director do GRU acabara de fazer 40 anos e havia 22 que era militante do partido. Fora por essas alturas que o jovem Golikov escrevera uns artigos no jornal local defendendo a Revolução Mundial…
Enfim, pormenores que, em caso de necessidade, com a devida investigação do KGB, poderiam facilmente transformar-se em acusações de trotskismo naqueles tempos conturbados… Tanto mais que, como acontecerá possivelmente com muitos outras figuras de destaque do bolchevismo, a biografia oficial de Golikov parece ter sido reescrita. As suas origens não serão as impecáveis origens proletárias que todo o bom comunista gostaria de exibir e até a sua idade oficial parece ser falsa, já que se veio a descobrir que Golikov havia frequentado a Academia de Cavalaria ainda durante o período czarista, em 1911. Ora essa Academia aceitava cadetes a partir dos 17/18 anos e não crianças de 11…
Mas a grande acusação que a História reserva para Filip Golikov foi a de, enquanto director do GRU, não se ter apercebido de quais eram as verdadeiras intenções de Adolf Hitler, depois da assinatura do Pacto Molotov-Ribbentrop, de 1939 a 1941. Como consequência disso, o Exército Vermelho foi apanhado completamente de surpresa em 22 de Junho de 1941, quando do desencadear da Operação Barbarrosa, a invasão da União Soviética. Hoje sabe-se que a responsabilidade daquele erro clamoroso assenta inteiramente em Estaline, ao não querer ver aquilo que era evidente, enquanto Golikov, qual Grão-Vizir do Sultão, se limitou a manter a cabeça entre os ombros…
Mas o grande contributo de Golikov para a História russa acontece logo de imediato, entre Julho e Setembro de 1941, quando Estaline o nomeia, por causa da sua actividade no serviço de informações, para encabeçar as duas missões soviéticas enviadas ao Reino Unido e aos Estados Unidos para se encarregarem da articulação prática da cooperação económica e militar com os seus novos aliados(*). Pelas razões ideológicas que são evidentes e com um conforto militar que não existia na altura, a historiografia oficial soviética sempre fez um grande esforço para descrever depois essas negociações como um fiasco. O que não só é mentira como também uma grande injustiça para Golikov.
Era a Golikov que competia demonstrar aos líderes dos dois países anglo-saxónicos que ainda se ia a tempo de auxiliar a União Soviética e que no seu país não se iria repetir uma hecatombe equivalente (ainda em escala mais alargada) à que acontecera em França no ano anterior. A avaliação da capacidade combativa do Exército Vermelho não era muito nítida: havia dado uma tareia aos japoneses em Khalkhin-Gol em Agosto de 1939 e depois havia levado uma tareia dos finlandeses na Guerra de Inverno em Dezembro. Em síntese, Golikov conseguiu que as desconfianças recíprocas fossem superadas e que uma cadeia de reabastecimentos logísticos fosse configurada e implementada.
O panorama não parecia animador… Dava-se a coincidência de todos os antecessores de Golikov naquele cargo, a começar pelo histórico fundador Ian Berzin e a acabar no predecessor imediato Ivan Proskurov, tinham acabado fuzilados… Restava a Golikov acreditar na sua boa Estrela – Vermelha, pois além de militar e até mais do que militar (ao contrário de muitos dos seus camaradas que se haviam filiado por razões práticas), Golikov considerava-se um comunista devotado. O novo director do GRU acabara de fazer 40 anos e havia 22 que era militante do partido. Fora por essas alturas que o jovem Golikov escrevera uns artigos no jornal local defendendo a Revolução Mundial…
Enfim, pormenores que, em caso de necessidade, com a devida investigação do KGB, poderiam facilmente transformar-se em acusações de trotskismo naqueles tempos conturbados… Tanto mais que, como acontecerá possivelmente com muitos outras figuras de destaque do bolchevismo, a biografia oficial de Golikov parece ter sido reescrita. As suas origens não serão as impecáveis origens proletárias que todo o bom comunista gostaria de exibir e até a sua idade oficial parece ser falsa, já que se veio a descobrir que Golikov havia frequentado a Academia de Cavalaria ainda durante o período czarista, em 1911. Ora essa Academia aceitava cadetes a partir dos 17/18 anos e não crianças de 11…
Mas a grande acusação que a História reserva para Filip Golikov foi a de, enquanto director do GRU, não se ter apercebido de quais eram as verdadeiras intenções de Adolf Hitler, depois da assinatura do Pacto Molotov-Ribbentrop, de 1939 a 1941. Como consequência disso, o Exército Vermelho foi apanhado completamente de surpresa em 22 de Junho de 1941, quando do desencadear da Operação Barbarrosa, a invasão da União Soviética. Hoje sabe-se que a responsabilidade daquele erro clamoroso assenta inteiramente em Estaline, ao não querer ver aquilo que era evidente, enquanto Golikov, qual Grão-Vizir do Sultão, se limitou a manter a cabeça entre os ombros…
Mas o grande contributo de Golikov para a História russa acontece logo de imediato, entre Julho e Setembro de 1941, quando Estaline o nomeia, por causa da sua actividade no serviço de informações, para encabeçar as duas missões soviéticas enviadas ao Reino Unido e aos Estados Unidos para se encarregarem da articulação prática da cooperação económica e militar com os seus novos aliados(*). Pelas razões ideológicas que são evidentes e com um conforto militar que não existia na altura, a historiografia oficial soviética sempre fez um grande esforço para descrever depois essas negociações como um fiasco. O que não só é mentira como também uma grande injustiça para Golikov.
Era a Golikov que competia demonstrar aos líderes dos dois países anglo-saxónicos que ainda se ia a tempo de auxiliar a União Soviética e que no seu país não se iria repetir uma hecatombe equivalente (ainda em escala mais alargada) à que acontecera em França no ano anterior. A avaliação da capacidade combativa do Exército Vermelho não era muito nítida: havia dado uma tareia aos japoneses em Khalkhin-Gol em Agosto de 1939 e depois havia levado uma tareia dos finlandeses na Guerra de Inverno em Dezembro. Em síntese, Golikov conseguiu que as desconfianças recíprocas fossem superadas e que uma cadeia de reabastecimentos logísticos fosse configurada e implementada.
Sobre as consequências a longo prazo das missões de Golikov, já aqui escrevi um poste dedicado ao impacto da colaboração americana no esforço de guerra soviético durante a Segunda Guerra Mundial, um outro tópico que também nunca foi muito bem quisto da historiografia oficial soviética…Quanto a Golikov, que regressou com um sucesso que só o tempo e a objectividade pôde avaliar justamente, pediu e concederam-lhe um comando militar, o 10º Exército, numa decisão que teve tanto de oportuna perante a pátria em perigo, como de sábia, porque dois dos seus sucessores como directores do GRU vieram posteriormente a morrer executados, sob o mesmo Estaline.
Comandante mediano, numa época em que as circunstâncias exigiam a excelência dos comandantes da Frente e sem nunca conseguir afastar de si a desconfiança dos seus pares devido ao seu percurso político-militar, a sua carreira acabou ao ser considerado o principal responsável pela derrota soviética durante a Terceira Batalha de Carcóvia, em Fevereiro e Março de 1943. Paradoxalmente, ao mesmo tempo que Golokov travava essa sua última batalha como comandante operacional e porque, depois das suas visitas, se tornara num dos raros generais soviéticos então conhecido fora dela, a revista norte-americana Time concedia-lhe a honra (rara) de figurar numa das suas capas…
Comandante mediano, numa época em que as circunstâncias exigiam a excelência dos comandantes da Frente e sem nunca conseguir afastar de si a desconfiança dos seus pares devido ao seu percurso político-militar, a sua carreira acabou ao ser considerado o principal responsável pela derrota soviética durante a Terceira Batalha de Carcóvia, em Fevereiro e Março de 1943. Paradoxalmente, ao mesmo tempo que Golokov travava essa sua última batalha como comandante operacional e porque, depois das suas visitas, se tornara num dos raros generais soviéticos então conhecido fora dela, a revista norte-americana Time concedia-lhe a honra (rara) de figurar numa das suas capas…
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