Por muitas efemérides que a RTP pretenda evocar, a verdade é que, mesmo por causas a que é alheia, a Guerra Colonial passou quase completamente ao lado da televisão portuguesa. Entre as reportagens associadas ao Para Angola, depressa e em força, proclamado por Salazar em 1961 (acima, com os soldados ainda de capacete e espingarda Mauser), e as dos Adeus, até ao meu regresso dos Natais do marcelismo da década de 70 (abaixo, com os soldados já de volkswagen*), deve restar muito pouco material com que a RTP possa reconstituir os acontecimentos de África.
A excepção mais notável a esse enorme vazio será porventura o material que terá restado das consecutivas cerimónias do 10 de Junho ao longo dos anos 60 e do início da década de 70 (mais abaixo) no Terreiro do Paço, com imagens que estão carregadas de simbolismo (“…foi atribuída a título póstumo a Cruz de Guerra de 3ª Classe…”) mas que também estão desprovidas de um verdadeiro conteúdo sobre a guerra em si. A consequência daquela pré-história no controlo da informação, quando este está restrito apenas à censura e não cria uma agenda própria, veio a conduzir a alguns absurdos.
Sem um organismo devidamente preparado para abastecer devidamente a comunicação social com informação favorável sobre o conflito que então se travava, um telejornal típico daquele período (abaixo) poderia abrir com as tradicionais deambulações e discursos do presidente Américo Thomaz e contornaria a situação militar no Ultramar, para depois vir a aterrar em cheio na página internacional em notícias como as da Ofensiva do Tet (Janeiro a Junho de 1968), que atrapalhavam a vida dos norte-americanos no Vietname…
Era um contraste flagrante na transparência das duas situações e aquela prática informativa nem sequer veio a ser afectada pela abertura do marcelismo, nem depois pelo aparecimento de mega-operações militares que, para além da componente militar, haviam sido também concebidas para passarem bem na televisão (e reforçarem as ambições políticas do seu comandante…), como foi o caso da Operação Nó-Górdio, promovida em Moçambique pelo general Kaúlza de Arriaga (abaixo) em Julho e Agosto de 1970**.
Apesar de todo aquele cuidado, mesmo para mim o assunto da Guerra Colonial vogava na sociedade portuguesa, nem que fosse de forma sublimada, desde o belicismo dos livros dos Mundo de Aventuras onde o major (luso-britânico!) Jaime Eduardo de Cook e Alvega continuava a ganhar a Segunda Guerra Mundial aos alemães, já depois de celebradas as bodas de prata do seu término (…), até ao cartaz convidando à manutenção das praias limpas naquele Verão, redigido obviamente por um recém-desmobilizado que resolvera baptizar o evento de Operação Armona-71…
* Confesso não saber se aquele barrete tem algum nome oficial.
** É de recordar que em 27 de Julho de 1970 morreu Salazar. Mesmo em circunstâncias normais, a operação de Kaúlza perderia a primazia dos cabeçalhos com essa notícia.
A excepção mais notável a esse enorme vazio será porventura o material que terá restado das consecutivas cerimónias do 10 de Junho ao longo dos anos 60 e do início da década de 70 (mais abaixo) no Terreiro do Paço, com imagens que estão carregadas de simbolismo (“…foi atribuída a título póstumo a Cruz de Guerra de 3ª Classe…”) mas que também estão desprovidas de um verdadeiro conteúdo sobre a guerra em si. A consequência daquela pré-história no controlo da informação, quando este está restrito apenas à censura e não cria uma agenda própria, veio a conduzir a alguns absurdos.
Sem um organismo devidamente preparado para abastecer devidamente a comunicação social com informação favorável sobre o conflito que então se travava, um telejornal típico daquele período (abaixo) poderia abrir com as tradicionais deambulações e discursos do presidente Américo Thomaz e contornaria a situação militar no Ultramar, para depois vir a aterrar em cheio na página internacional em notícias como as da Ofensiva do Tet (Janeiro a Junho de 1968), que atrapalhavam a vida dos norte-americanos no Vietname…
Era um contraste flagrante na transparência das duas situações e aquela prática informativa nem sequer veio a ser afectada pela abertura do marcelismo, nem depois pelo aparecimento de mega-operações militares que, para além da componente militar, haviam sido também concebidas para passarem bem na televisão (e reforçarem as ambições políticas do seu comandante…), como foi o caso da Operação Nó-Górdio, promovida em Moçambique pelo general Kaúlza de Arriaga (abaixo) em Julho e Agosto de 1970**.
Apesar de todo aquele cuidado, mesmo para mim o assunto da Guerra Colonial vogava na sociedade portuguesa, nem que fosse de forma sublimada, desde o belicismo dos livros dos Mundo de Aventuras onde o major (luso-britânico!) Jaime Eduardo de Cook e Alvega continuava a ganhar a Segunda Guerra Mundial aos alemães, já depois de celebradas as bodas de prata do seu término (…), até ao cartaz convidando à manutenção das praias limpas naquele Verão, redigido obviamente por um recém-desmobilizado que resolvera baptizar o evento de Operação Armona-71…
* Confesso não saber se aquele barrete tem algum nome oficial.
** É de recordar que em 27 de Julho de 1970 morreu Salazar. Mesmo em circunstâncias normais, a operação de Kaúlza perderia a primazia dos cabeçalhos com essa notícia.
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