28 setembro 2007

PEQUENOS EPISÓDIOS DAS VIDAS DE GRANDES HOMENS

Um dia, num daqueles salões londrinos do Século XIX, Lorde Melbourne, que era então o Ministro do Interior do Governo de Sua Majestade, perguntou a um jovem romancista (30 anos) de cabelo encaracolado e aspecto meridional a quem acabara de ser apresentado: - Então, o que é que desejais vir a ser? - Primeiro-Ministro, Sir! – foi a resposta pronta de um jovem Benjamin Disraeli, que já se apercebera que, naqueles meios, mais valia com que se rissem e dessem por ele do que correr o risco de passar desapercebido. Mas também não se tratava de uma descoberta particularmente arguta de Disraeli.
Alguns milénios antes, fora creditada a Alcibíades a decisão de cortar o rabo ao seu cão para que houvesse um assunto a seu respeito que circulasse pela sociedade da Atenas da Antiguidade. Note-se o preciosismo do objecto da notícia não ser o sacrifício do cão que ficara com o rabo capado, mas antes a pessoa do seu proprietário que o submetera a tal tortura: duvido que tenham anestesiado o bicho… Mas a grande Evidência destes dois acontecimentos que narrei é que a importância histórica dos dois nomeados em nada depende daqueles dois epifenómenos.
Enganam-se as pessoas que, como Pedro Santana Lopes, tendem a confundir a forma com o fundo… Assim, uma saída espectacular em directo de um estúdio de televisão, que seria um pequeno episódio da vida de um grande homem pode transformar-se num grande episódio da vida de um pequeno homem. Mas também não é preciso que haja outros que os ajudem naquela ilusão, como Ricardo Costa*, levando a sua obstinação ao limite da obtusidade: que tal Costa reconhecer que meteu água**?... Olhem, como Duarte Gomes, o árbitro do último Estrela Amadora – Benfica. O gesto ficou-lhe tão bem…

* Como muito bem nota aqui a Sofia, parece que Ricardo Costa é propenso a estas manias de grandeza, onde confunde o seu lugar na plateia (ainda que nas primeiras filas, para fazer perguntas aos que estão no palco…) com um lugar próprio seu de destaque no palco, como intérprete para as massas daquilo que os protagonistas dizem.
** É da tradição que numa situação destas de um unanimismo esmagador, há sempre quem veja na adopção de uma opinião discordante da multidão a recompensa do destaque para a sua pessoa. Neste caso, acontece com Eduardo Cintra Torres, que sustenta a sua opinião em pérolas de argumentação como Mourinho pode não ter dito nada de interessante, mas Santana Lopes não diz nada de interessante há 30 anos ou não é uma figura relevante na sociedade portuguesa como é Mourinho… Às vezes Cintra Torres, que se deve pensar uma figura mais relevante da sociedade portuguesa do que aquilo que de facto é, diz coisas interessantes mas quando não diz... tresanda a despeito e daquele despeito que se exprime de uma forma rasca.

3 comentários:

  1. O gesto de Duarte Gomes só lhe teria ficado bem se tivesse sido sincero.
    Correndo o risco de estar a ser injusto, julgo que Gomes quis imitar os ingleses, tentando limpar-se enquanto sujava a imagem do seu auxiliar que apontou como instigador da decisão.
    O patrão do trio é Gomes. Para mais, estava em melhor posição para ver o lance e julgar.
    Por razões que desconheço, preferiu seguir o alvitre do auxiliar e, depois, veio (em pose diletante e hipócrita) assumir o erro supostamente colectivo.
    Só lhe faltou a viola a acompanhar o choradinho...

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  2. Tem razão Carteiro, Duarte Gomes não terá sido o melhor exemplo a usar, era apenas “o pé que estava mais à mão”… Mesmo assim Gomes faz um colossal contraste com Ricardo Costa que poderia fazer suas as imortais palavras de Piaf – empregues num contexto completamente diferente: - "Non, rien de rien, non, je ne regrette rien!"

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  3. O pior é que, perante tanta mentira, tanta hipocrisia e bandalheira generalizada, o presidente da Liga deve andar a cantar, como Bécaud,
    "Et maintenant, que vais-je faire"...

    A propósito, ontem ouvi o "Bolero", de Ravel, por três pianos, e fiquei com a nítida convicção de que a introdução e o acompanhamento desta canção de Bécaud são um plágio flagrante do Bolero.

    Aquele tan tan tan tan tan martelado do Gilbert Bécaud tem direitos de (outro) autor...

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