07 setembro 2007

CHEGAR À FASE AGOSTINHO DA SILVA

Atinge-se a fase de Agostinho da Silva, por analogia ao tratamento sofrido às mãos da comunicação social portuguesa pelo original filósofo, quando se reconhece que uma alguém tem muita categoria, ao mesmo tempo que nos apercebemos da insistência desmesurada feita por terceiros no destaque a essa mesma categoria, o que acaba por levar a audiência a reconhecer que essa overdose desproprocionada de elogios se torna excessiva e termina com o aborrecimento com o abuso com que o laureado é louvado… Esta fase final - aconteceu também com Agostinho da Silva - costuma anteceder em pouco o óbito da pessoa em questão…
Ultimamente, quando passou a ser socialmente aceite o ridículo de certos panegíricos post-mortem, a abordagem Agostinho da Silva tem sido adoptada pelos bons produtores do sector, aqueles que têm um feitio mais selectivo e que se mostram mais previdentes e que, não gostando de se misturar com o resto da maralha, começam a ser elogiosos antecipadamente. Um dos efeitos, perverso, é o de um ror de elogios menos habitual desencadear na audiência mais desconfiada suspeitas sobre o estado de saúde do elogiado…
Seria incorrecto e aziago apontar nomes que eu suspeite estarem a chegar à dita fase Agostinho da Silva, mas sempre posso dar o devido relevo à única pessoa que considero que, beneficiando dessa fase, já está muito para além dela: o cineasta Manoel de Oliveira. A caminho de fazer 99 anos em Dezembro, de há muito que as leis da biologia fizeram dele o alvo ideal dos tais autores de panegíricos mais previdentes, que se lançaram em encómios inultrapassáveis a cada filme em que ele figurava como realizador…
Depois existe uma outra realidade, menos artística mas mais concreta, a do número de bilhetes vendidos pelos seus filmes, que transforma essas excelentes obras, premiadas lá fora e tudo, numa realidade que é de há muito conhecida: os filmes de Oliveira costumam ser umas enormes estopadas - acima, uma cena de um dos seus filmes (Francisca)... Mas, por causa de ter atingido (e ultrapassado) a fase Agostinho da Silva, Manoel de Oliveira deve ser o único cineasta do mundo que, depois de ter completado 90 anos, passou a realizar obras-primas consecutivas a partir daí…

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