Não é só neste país, como
canta Sérgio Godinho, que os casos de corrupção tendem a passar impunes, por muito que existam indícios fortíssimos a envolver os implicados. A
Lockheed Co. era (desapareceu absorvida por uma rival) uma construtora aeronáutica norte-americana que era mais afamada pela
agressividade que colocava nas técnicas de
promoção dos seus produtos do que propriamente pela qualidade dos mesmos…

Contudo, curiosamente, o apogeu dos escândalos associados às
recordações com que a
Lockheed gratificava directa ou indirectamente os membros dos comités de selecção dos equipamentos a adquirir não rebentou na década de 1960, quando houve um mega concurso para o equipamento de caças interceptores para as Forças Aéreas dos países da
NATO que foi ganho surpreendentemente pelo seu F-104
Starfighter (abaixo)…

Nesse concurso, a concorrência era constituída primordialmente por aparelhos militares europeus (como os
Mirage franceses) e a
ressaca que se costuma gerar depois destes concursos coincidia com as tradicionais rivalidades nacionais. Mas na disputa para o equipamento das Forças Aéreas na próxima geração (em 1975-76), foram concorrentes compatriotas da
Lockheed que fizeram rebentar o escândalo no Senado americano.

As investigações então efectuadas fizeram
desenterrar volumosos
subsídios entregues ao ministro da defesa alemão (e dirigente regional bávaro)
Franz-Jozef Strauss, ao
primeiro-ministro japonês Kakuei Tanaka (acima), ao marido da Rainha da Holanda,
príncipe Bernardo, entre muitos outros
beneficiados, menos mediáticos, mas decisores que eram funcionários e militares de países tão variados como a Itália ou a Arábia Saudita.

O mega concurso da década de 1970 foi ganho pela
General Dynamics e o seu F-16 (acima)… Franz-Jozef Strauss continuou a ser o
patrão na
Baviera e do seu partido regional, a
CSU, uma espécie de Alberto João Jardim em alemão, mais a sério e mais poderoso, Kakuei Tanaka continuou a manipular o
Partido Liberal Democrata no poder no Japão, só que agora nos seus bastidores, e a Rainha Juliana não se divorciou obviamente do seu Bernardo…

De toda esta história ficou uma constatação que os negócios envolvendo armamento (como o dos submarinos, por exemplo…) operam com margens tão abundantes que se prestam facilmente a
bondosas distribuições de benefícios entre os envolvidos e obtêm-se resultados! A outra constatação é que, mesmo sem ser neste país, o seu desmascaramento não costuma ter consequências sérias para as carreiras políticas dos envolvidos…
"Aquele que tiver sem pecado atire a primeira granada"
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