É com um certo orgulho que registo as diferenças de tratamento com que as patrulhas de trânsito costumam abordar os automobilistas em Portugal e Espanha. Geralmente – aqui há que forçosamente fazer generalizações – os elementos das patrulhas portuguesas dão mostras de uma cortesia e de um civismo no tratamento com os automobilistas que fazem os seus homólogos espanhóis passarem por arrogantes e mal-educados. É um dos raros casos em que, creio, beneficiamos por termos tido uma Revolução em vez de uma Transição, como aconteceu no caso espanhol.
A Revolução de 1974 em Portugal desmontou a relação (muito baseada no receio) entre a população e as polícias que vinha do regime anterior – quem não se lembra como, durante o PREC, era sempre preciso chamar os militares quando acontecia qualquer distúrbio? Foi depois preciso reconstruir essa relação em democracia, com a própria instituição policial a tomar consciência quanto a sua aceitação pela população é um elemento indispensável ao seu bom desempenho. Estou ocnvicto que essa será uma explicação longínqua porque o elemento da patrulha da BT me pede os meus documentos da viatura, por favor.
A Guardia Civil sempre pareceu ser um dos suportes do regime franquista em Espanha. A sua popularidade era correspondente: não era por acaso que os dirigentes iniciais da ETA escolhiam os seus membros para vítimas dos seus ataques terroristas… Como as Forças Armadas espanholas, a Guardia Civil era uma organização com ideologia, a quem se pedia apenas, durante a Transição da ditadura para a democracia, que não se opusesse a ela… Mesmo assim, tornou-se famosa a fotografia de um seu oficial superior (Tejero Molina - abaixo) de pistola em punho na Câmara de Deputados, a dar a cara pelo golpe anti-democrático falhado de 1981
Actualmente, ainda é muito fácil encontrar na Net panegíricos ao tenente-coronel golpista de há (mais de) 25 anos, escritos por quem pretende estar a falar em nome de toda a instituição… Não sei até que ponto essa imagem, associando a Guardia Civil e o autoritarismo político, ainda será verdadeira, mas a cortesia com que me mandam encostar numa autovia** estremenha reforça-ma… A verdade é que a Espanha continua a ser uma sociedade extremamente policiada. É o país que conta com mais efectivos policiais na Europa ocidental: existem ali 507 polícias por 100.000 habitantes, enquanto esse mesmo indicador para Portugal é mais de 30% inferior (340)*…
É caso para dizer que, comprovadamente, se não há dúvidas que a Espanha é uma democracia, também não as há que é uma daquelas democracias policialmente muito musculadas, onde as relações entre polícias e população não parecem ser das mais fraternas, onde esteja interiorizado que as primeiras estão ao serviço da segunda... É preferível o exemplo dos polícias portugueses onde, mesmo sendo proporcionalmente menos e, não tendo elementos para dizer se são melhores, pelos menos sei que me transmitem uma sensação de melhor segurança…
* Quid 2004. O mesmo indicador para outros países da União Europeia: França 396, Itália 364, Áustria 347, Bélgica 342, Alemanha 329, Irlanda 322, Reino Unido 303, Holanda 288, Suécia 286, Luxemburgo 250, Dinamarca 198 e Finlândia 154.
** Auto-estrada em castelhano.
A Revolução de 1974 em Portugal desmontou a relação (muito baseada no receio) entre a população e as polícias que vinha do regime anterior – quem não se lembra como, durante o PREC, era sempre preciso chamar os militares quando acontecia qualquer distúrbio? Foi depois preciso reconstruir essa relação em democracia, com a própria instituição policial a tomar consciência quanto a sua aceitação pela população é um elemento indispensável ao seu bom desempenho. Estou ocnvicto que essa será uma explicação longínqua porque o elemento da patrulha da BT me pede os meus documentos da viatura, por favor.
A Guardia Civil sempre pareceu ser um dos suportes do regime franquista em Espanha. A sua popularidade era correspondente: não era por acaso que os dirigentes iniciais da ETA escolhiam os seus membros para vítimas dos seus ataques terroristas… Como as Forças Armadas espanholas, a Guardia Civil era uma organização com ideologia, a quem se pedia apenas, durante a Transição da ditadura para a democracia, que não se opusesse a ela… Mesmo assim, tornou-se famosa a fotografia de um seu oficial superior (Tejero Molina - abaixo) de pistola em punho na Câmara de Deputados, a dar a cara pelo golpe anti-democrático falhado de 1981
Actualmente, ainda é muito fácil encontrar na Net panegíricos ao tenente-coronel golpista de há (mais de) 25 anos, escritos por quem pretende estar a falar em nome de toda a instituição… Não sei até que ponto essa imagem, associando a Guardia Civil e o autoritarismo político, ainda será verdadeira, mas a cortesia com que me mandam encostar numa autovia** estremenha reforça-ma… A verdade é que a Espanha continua a ser uma sociedade extremamente policiada. É o país que conta com mais efectivos policiais na Europa ocidental: existem ali 507 polícias por 100.000 habitantes, enquanto esse mesmo indicador para Portugal é mais de 30% inferior (340)*…
É caso para dizer que, comprovadamente, se não há dúvidas que a Espanha é uma democracia, também não as há que é uma daquelas democracias policialmente muito musculadas, onde as relações entre polícias e população não parecem ser das mais fraternas, onde esteja interiorizado que as primeiras estão ao serviço da segunda... É preferível o exemplo dos polícias portugueses onde, mesmo sendo proporcionalmente menos e, não tendo elementos para dizer se são melhores, pelos menos sei que me transmitem uma sensação de melhor segurança…
* Quid 2004. O mesmo indicador para outros países da União Europeia: França 396, Itália 364, Áustria 347, Bélgica 342, Alemanha 329, Irlanda 322, Reino Unido 303, Holanda 288, Suécia 286, Luxemburgo 250, Dinamarca 198 e Finlândia 154.
** Auto-estrada em castelhano.
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