28 janeiro 2006

VALHA-ME DEUS

Com o título original de Goodness Gracious Me, esta série britânica de 1998, ainda em exibição na Britcom da RTP 2, para além de estar também disponível em DVD, é um dos bons produtos da globalização.

A descontracção com que, ao longo da série, os protagonistas (de ascendência indiana) retratam os preconceitos raciais dos europeus em relação aos indianos, vice-versa, e dos indianos entre si são um excelente contraponto à compulsiva seriedade compungida com que esses assuntos das relações interraciais são tratados (basta lembrarmo-nos, só para exemplo, de Louçã e das suas considerações de tom evangélico no quadro do SOS Racismo).

Os preconceitos, próprios e alheios, são muitas vezes intrinsecamente ridículos. E as situações geradas para os corrigir, porque não são genuínas, também o são. Veja-se como as crianças maltratam com alcunhas os seus colegas que usam óculos, que são gordos ou ruivos. E depois os que são negros passam a ser os meninos de cor e não têm alcunhas porque… parece mal – o que acaba por ser uma outra forma de discriminação.

A série Valha-me Deus torna-se salutar e descomprometidamente divertida porque é multilateralmente racista, troçando simultaneamente do racismo. E, no quadro de uma melhor compreensão de outras culturas, atrever-me-ia a sugeri-la ao senhor Javier Solana, responsável pela política externa da União Europeia, que, em declarações de hoje, lhe resvalou o pé para o chinelo do preconceito, ao tentar minorar a legitimidade da vitória do Hamas nas eleições palestinianas.

Não é pelas eleições se terem desenrolado entre gente menos recomendável, e ter ganho uma organização menos recomendável que as eleições deixam de poder ser consideradas livres e democráticas. Imagine-se lá, Sr. Solana, às vezes ganha quem não estamos à espera…

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