04 janeiro 2006

UM ANJO NA PASTA DAS FINANÇAS

Há coisa de dois meses (a 11 de Novembro, para ser preciso), referi aqui as minhas dúvidas sobre as intenções da proposta em que o BCP se propunha vender o seu fundo de pensões ao Estado por 4 mil milhões de euros, passando os seus trabalhadores para o regime geral da segurança social.

Aquelas dúvidas surgiram, não por algum estudo técnico que tenha efectuado, antes pela intuição de, desconhecendo o enredo da peça, conhecer a personalidade do artista. Pelos vistos, o Tribunal de Contas veio agora publicitar que fez as contas por mim, ao avaliar economicamente o impacto de operações semelhantes feitas pelos governos de Durão Barroso e de Santana Lopes.

Sempre esteve latente na nossa sociedade que havia uma espécie de necessidade que o ministro das finanças de qualquer governo se contasse entre os mais técnicos e menos políticos do elenco. Era como que uma chancela de confiança – não nos contaria as aldrabices costumeiras de político. Essas expectativas talvez ainda sejam uma herança perversa do tempo de Salazar…

O que este estudo do Tribunal de Contas nos vem demonstrar é que já não há desses anjos: as decisões de Manuela Ferreira Leite e de Bagão Félix foram de índole política pura e dura e tomadas numa óptica de curtíssimo prazo, para desenrascar. Acessoriamente, parecem ter realizado um péssimo negócio para o Estado, cujos interesses na altura os dois representavam…

Só é estranho ter de se demorar dois anos para se atingirem estas conclusões. É que cada vez se estranha mais as notícias que se comentam e, sobretudo, quando se comentam. E, em rigor, as medidas até podem ser defensáveis. Será que a saída destas notícias, a propósito dos seus antecessores e nesta altura, servirá para amenizar as outras notícias (talvez não muito favoráveis...), sobre a execução orçamental de 2005, já da responsabilidade do actual ministro, Teixeira dos Santos?

É que os tais anjos parecem ter já ido todos pró Céu…

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