Sempre tive a impressão que as comédias de Jacques Tati eram mais apreciadas socialmente do que o eram de facto. Parecia que o humor nesses filmes padecia do mesmo problema da competência na capacidade de ver o vestido mágico do famoso conto de Andersen. Também aqui, parecia haver um atributo de inteligência a quem dissesse que os apreciava e quem tivesse posição contrária perdia-o.
Agora que os filmes de Tati passaram para DVD, acho que consegui finalmente perceber uma das razões para esse acanhamento e essa falta de popularidade: a banda sonora. As bandas sonoras dos seus filmes são isso mesmo e só isso: bandas sonoras. Embora jogando frequentemente com a comicidade auditiva das situações retratadas, o que lá está é o que existe no real, sem aditivos.
E a nossa dependência dos efeitos sonoros que nos ensinem a sentir aquilo que é suposto sentirmos a cada momento de cada filme, nomeadamente as famosas gargalhadas enlatadas dos telefilmes que nos induzem a acompanhar o preciso momento do riso, podem deixar-nos, quando eles não existem como nos filmes de Tati, na situação desconfortável da liberdade de rir ou de não rir das piadas que vão aparecendo no ecrã.
Como as rodinhas das bicicletas das crianças que estão a aprender a andar, é uma sociedade cada vez mais tutelada, com cidadãos cada vez mais dependentes de tutela, aquela que parece andarmos a construir.
Se nos ajudam a seleccionar os momentos cómicos de uma série televisiva, como nos podemos surpreender que não nos considerem suficientemente habilitados para julgarmos por nós mesmos um debate político televisivo?
Se alguma tendência antevejo, é para um parcelamento cada vez maior dos ditos debates, para mais compromissos publicitários, comentários intercalares dos comentadores do costume e, sei lá, talvez mesmo repetições em câmara lenta…
Agora que os filmes de Tati passaram para DVD, acho que consegui finalmente perceber uma das razões para esse acanhamento e essa falta de popularidade: a banda sonora. As bandas sonoras dos seus filmes são isso mesmo e só isso: bandas sonoras. Embora jogando frequentemente com a comicidade auditiva das situações retratadas, o que lá está é o que existe no real, sem aditivos.
E a nossa dependência dos efeitos sonoros que nos ensinem a sentir aquilo que é suposto sentirmos a cada momento de cada filme, nomeadamente as famosas gargalhadas enlatadas dos telefilmes que nos induzem a acompanhar o preciso momento do riso, podem deixar-nos, quando eles não existem como nos filmes de Tati, na situação desconfortável da liberdade de rir ou de não rir das piadas que vão aparecendo no ecrã.
Como as rodinhas das bicicletas das crianças que estão a aprender a andar, é uma sociedade cada vez mais tutelada, com cidadãos cada vez mais dependentes de tutela, aquela que parece andarmos a construir.
Se nos ajudam a seleccionar os momentos cómicos de uma série televisiva, como nos podemos surpreender que não nos considerem suficientemente habilitados para julgarmos por nós mesmos um debate político televisivo?
Se alguma tendência antevejo, é para um parcelamento cada vez maior dos ditos debates, para mais compromissos publicitários, comentários intercalares dos comentadores do costume e, sei lá, talvez mesmo repetições em câmara lenta…
Concordo a 100%. Para além dos tutores do pensamento há sempre pessoas "escravas" do politicamente correcto!
ResponderEliminarSe não houvesse esses incondicionais do politicamente correcto, muitas cenas ridículas perderiam muita da sua beleza por serem actos ridículos mas isolados
ResponderEliminarHá quem não se aperçeba, entre os que têm pavor em não andar em "manada", para não darem nas vistas, que muita da comicidade de algumas cenas vem do facto de serem feitas pela "manada"...