24 janeiro 2006

D. JOÃO V, O MAGNÂNIMO

No tempo em que se aprendia História de Portugal trauteando-a, havia um apêndice bizarro, a seguir ao nome e ordinal do rei, designado por cognome. Se, naquela altura, embora os decorasse, não compreendia a utilidade da maioria deles, hoje, continuo com a mesma opinião, reforçada com a convicção que há mesmo alguns cognomes que são um verdadeiro disparate.

D. João V era o magnânimo, embora fosse um exercício de contorcionismo verbal da parte do professor explicar onde se poderia ver na prática política do seu reinado a tal magnanimidade do soberano. Parece-me não ter sido nem um grande rei nem um sujeito simpático – tem é um cognome grandiloquente.

Parece que estamos em vias de ter um segundo magnânimo, na pessoa do Eng. José Sócrates, a fazer fé na notícia que, do PS, mandaram publicar na primeira página do Público*: Sócrates Impede Retaliação Contra Alegre.

Parece que Sócrates, o outro Magnânimo, deu ordens internas para que não haja retaliação contra Alegre. Parece que, obviamente, Alegre estaria sujeito a uma vendetta terrível por parte dos militantes socialistas depois de ter demonstrado eleitoralmente que ele tinha razão e o secretário-geral e os seus baronetes não.

Geralmente, no mundo racional, a superioridade moral pertence a quem tem razão e essa superioridade é acrescida quando isso é demonstrado na prática – Manuel Alegre, em dissidência, obteve um resultado bastante melhor do que o da candidatura oficial. A fazer fé na verdade daquela notícia, parece que o Partido Socialista não faz parte do mundo racional; ali, pelos vistos, impera a lógica da fidelidade canina e a disputa é por quem dá mostras da maior – e aí, Vitalino Canas tem sido a estrela em ascensão. Não há figura tristre a que ele não se preste no interesse do partido. Tenho até algumas ideias de mais alguns sacrifícios que ele poderá fazer pelo partido, não lhos posso é dizer assim num blogue...

Já ontem disse que desconfio que entre as hostes de Manuel Alegre ninguém sabe lá muito bem o que é essa coisa da cidadania – possivelmente é apenas o ar de um balão cheio de ruído e de retórica. Mas, como Sócrates terá obrigação de saber depois de Santana Lopes, estas situações avaliam-se comparativamente. E quando o partido dele abre a boca e diz coisas deste calibre, vem lá de dentro um mau hálito…

* Ou pensam que são só as televisões que interrompem os outros para passar a dar o primeiro-ministro a falar?

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