05 janeiro 2024

«PAPAMADIT». SOBRE FILHOS DE PRESIDENTES DA REPÚBLICA...

...há que recordar que Nuno Rebelo de Sousa (à direita) e as suas agora conhecidas actividades de intermediário/lobista teve um antecessor de 25 anos na pessoa de Jean-Christophe Mitterrand (à esquerda), o filho mais velho de François Mittterrand, que foi presidente de França entre 1981 e 1995. Reconheça-se que o caso que envolveu o francês, e que, começado em 1994, se arrastou até 2009, era bastante mais caricato e mais sórdido. Mais caricato porque Mitterrand era uma personalidade muito mais medíocre do que Rebelo de Sousa, a ponto de vir a ser alcunhado displicentemente pela imprensa por papamadit - literalmente: o papa disse-me. E mais sórdido porque, em vez de mediações nos negócios da saúde, aquilo que o veio a notabilizar foi a sua intermediação no comércio de armamento - para Angola. Mas os detalhes não fazem a diferença daquilo em que consistirá a essência da actividade de ambos: recorrer à condição (subentendida) de serem filhos do pai para promoverem o seu estatuto. No caso dos Mitterrands, esse estatuto ainda estava consubstanciado no cargo de conselheiro para os assuntos africanos para que o Mitterrand pai nomeara o Mitterrand filho entre 1986 e 1992. Mas, no caso dos Rebelo de Sousa, o pai Marcelo estará num outro patamar ético e não havia nada de formal que justificasse conceder deferência ao Rebelo de Sousa filho, o que torna uma palermice inexplicável a actuação do secretário de Estado Lacerda Sales na época dos factos, sem se certificar do que é que aquilo valeria em Belém. Ou então, ter-se-á certificado mesmo... De qualquer modo, na fase actual da versão dos acontecimentos que prevalece nas convicções da opinião pública, foi uma palermice inexplicável a juntar a outra palermice inexplicável: as suas amnésias hesitantes de 2023.

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