Esta história que aqui vou contar já tem mais de 45 anos, ocorreu por ocasião das cerimónias do 175º aniversário do Colégio Militar, cerimónias que foram presididas pelo então presidente da República, general Ramalho Eanes. Antes das cerimónias se iniciarem, e diante da guarda de honra que o aguardava, houve uma cena que ainda hoje recordo. Formou-se inicialmente uma poule de foto-jornalistas postados no sítio mais propício para fazer a melhor fotografia ao presidente, quando ele chegasse. Infelizmente, o sítio era também o mesmo por onde forçosamente o mesmo presidente, o seu ajudante, e o comandante da guarda de honra haveriam de passar quando o primeiro passasse revista aos membros que - como eu - constituíam a guarda de honra. Não podia ser. Um alferes da PE (Polícia do Exército) explicou pacientemente isso aos foto-jornalistas e estes dispersaram. Passado alguns instantes formava-se novo grupo, mais pequeno (dois ou três), no mesmo local, e o mesmo alferes voltou a explicar-lhes, aos fotógrafos insistentes, precisamente a mesma coisa. Enquanto isso, nós, na guarda de honra, apreciávamos este jogo do gato e do rato impávidos, mas nem por isso desatentos e, por isso, divertidos. Chega o presidente, começam os procedimentos, saudações, hino, e não é que há um fotógrafo mais coriáceo que, apesar do que acontecera, volta para o lugar do crime?... Aí, o alferes da PE, que era de compleição avantajada, esgotara a paciência, e, pegando sem cerimónia no fotógrafo pela gola e pelos fundilhos, despejou-o para uma distância de uns dois metros longe do local onde presidente e acompanhantes passariam, onde o fotógrafo aterrou para um lado e a sua máquina para outro. A cena foi violenta mas é minha convicção profunda que a assistência só não irrompeu em aplausos porque: a) era uma tropa disciplinada; b) tínhamos as mãos ocupadas a segurar as armas. O fim da história é um anti-clímax, o fotógrafo afastando-se dorido com a máquina de onde se partira qualquer coisa, rogando pragas e ameaçando represálias, que não dei por que se concretizasse. Mesmo sem as fotos mais especiais daquele parvalhão, a ocasião ficou registada para a posterioridade, como o comprovam as duas fotos mais acima.
Regressemos ao presente e ao recente episódio em que o Expresso se vitímiza porque um dos seus jornalistas foi expulso de um «evento universitário». Da própria notícia que o jornal publica percebe-se que os convites haviam sido feitos extemporaneamente por membro do staff do Chega (quando estes não eram sequer os anfitriões do evento), que o jornalista terá sido previamente instado por três vezes para o abandonar e quanto à expressão «agredido» que é usada pelo jornal, essa parece excessiva quando se lê que ele terá sido «agarrado pelos pés e pelos braços» e posto fora do recinto onde decorria o evento. Removido sem qualquer cortesia sim, mas essa falta de cortesia começara quando ele se recusara a abandonar o local, recusando razões que preferiu não reconhecer como válidas. Recordando aquilo que aconteceu diante de mim há 45 anos, o que faltará a esta história é recolher o depoimento de alguém que a possa descrever de maneira imparcial. Não se dê o caso do jornalista se ter comportado como um parvalhão, como aconteceu com o foto-jornalista do parágrafo mais acima. Porém e em vez disso, quanto mais o tempo passa, mais se percebe que, em vez de o esclarecer, o exercício dos colegas deste jornalista tem sido o de tentar conspurcar o incidente com o maior número de entidades possíveis: Chega, UCP, Iniciativa Liberal... Como sempre, parece ser tempo perdido pedir-lhes, aos jornalistas, objectividade em acontecimentos em que estão em jogo os seus interesses de classe. O que, não nos esclarecendo nada quanto ao que terá acontecido, elucida-nos, ao menos, porque é que quiseram transformar aquilo que aconteceu em notícia.
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