30 janeiro 2024

OS ASSUNTOS, TAL QUAL ELES SÃO, EM CONTRASTE COM A MANEIRA COMO NOS QUEREM CONTAR

30 de Janeiro de 1984. O Diário de Lisboa publica, via AFP, um artigo de opinião de um jovem (27 anos) sociólogo francês chamado Didier Lapeyronnie sobre a questão do sigilo bancário suíço (note-se que os dados que aqui forneço sobre a identidade do autor do artigo não eram então facultados ao leitor do jornal). Sobre o conteúdo do artigo, mesmo uma leitura menos atenta mostra quanto ele é inequívoco na condenação das práticas da banca suíça. Mas o próprio artigo acaba dando uma esperança contra tais práticas condenáveis, porque quase quatro meses depois, a 20 de Maio, «os eleitores helvéticos (iriam) ser chamados às urnas para se pronunciarem, por via de referendo sobre uma iniciativa socialista "contra o abuso do segredo bancário"». A impressão geral que se extraía do artigo - pelo menos, foi o que aconteceu comigo - é que os suíços teriam então uma oportunidade de se exprimir contra uma prática duvidosa, senão mesmo condenável, de proteger a identidade de depositantes que ali escondiam fortunas de origens inconfessáveis. Esta era a opinião de Didier Lapeyronnie com este seu artigo de há 40 anos, avalizado pela France Press. E depois... houve quem não se tivesse esquecido do assunto, e tivesse ficado atento aos resultados do referendo (abaixo). Numa proporção de quase 3 para 1, os suíços que se pronunciaram manifestaram-se a favor da manutenção do sigilo bancário. E foi assim que eu descobri que monsieur Lapeyronnie não estava afinal nada sintonizado com a opinião generalizada dos próprios suíços... Achava coisas. Era aquele tempo em que eu dava muita valia à opinião que vinha do estrangeiro, por vir do estrangeiro.

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