26 janeiro 2024

UMA RUPTURA EM FALSO

(Republicação)
26 de Janeiro de 1944. Com a solenidade grave que a capa do jornal local acima deixa adivinhar, o presidente da Argentina, o general Pedro Pablo Ramirez (1884-1962) anuncia a ruptura das relações diplomáticas entre o seu país e os dois países do Eixo que ainda subsistiam (Alemanha e Japão). O pretexto invocado fora a "descoberta" de redes de espionagem daqueles países a operar na Argentina - algo que as autoridades argentinas decerto conheciam de há muito; e sobre as redes de espionagem dos aliados nem uma palavra. O pretexto era ridículo mas, do ponto de vista geopolítico, o gesto parecia representar uma vitória dos esforços dos Estados Unidos em conseguir arrastar atrás de si todos os países daquele que considerava ser o "seu" hemisfério. Como acontecera anteriormente com o Brasil, o México ou a Colômbia (para citar apenas casos referenciados aqui no Herdeiro de Aécio), passava a aguardar-se a breve prazo a declaração formal de guerra por parte da Argentina aos dois países do Eixo, mesmo que fosse para não fazer nada. Mas não foi assim: as figuras proeminentes do regime militar que tomara o poder em Junho de 1943 encararam esta atitude de Ramirez com tal relutância que, apenas um mês depois, a 25 de Fevereiro de 1944, deram um golpe palaciano substituindo Ramirez por um novo presidente, o general Edelmiro Julián Farrell (1887-1980). Com uma disposição bem menos entusiasmada, a Argentina só veio a declarar guerra à Alemanha mais de um ano depois, em 27 de Março de 1945. O objectivo de tornar aquela declaração inócua fora conseguido: a Alemanha rendeu-se umas escassas seis semanas depois (a 8 de Maio de 1945).

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