A cerveja mais vendida na China é uma conhecida pela designação comercial de Snow, mas se pedirmos uma cerveja de origem para acompanharmos a comida no restaurante chinês o mais provável é que nos sirvam uma Tsingtao. A Tsingtao deve-se a cervejeiros alemães que em 1903 fundaram na cidade homónima do Norte da China (província de Shandong) uma das primeiras instalações industriais para o efeito. Refira-se que Tsingtao, assim como a área circundante da baía de Kiauchau (552 km²) eram administradas directamente pela Alemanha como se de uma colónia se tratasse. Esse modelo de ocupação pelas grandes potências da época era, aliás, um figurino comum ao longo das costas da China: ao Sul os britânicos ocupavam Hong-Kong (1.031 km²) e os franceses Kouang-Tchéou-Wan (1.295 km²) – além dos portugueses e a sua histórica possessão de Macau (16 km²) que já existia desde o Século XVI;
a Norte, mais próximos da capital Pequim e dos teóricos centros de poder de um Império da China cada vez mais vacilante, conforme se pode ver no mapa, os alemães de Tsingtao vigiavam-se aos russos sediados em Porto Arthur (512 km²), aos britânicos em Weihawei (750 km²) e mesmo aos japoneses que, já senhores da península da Coreia, lançavam os seus olhares ambiciosos a partir de Seul para a China propriamente dita. O interesse em ocupar todas aquelas posições portuárias, judiciosamente localizadas, era, obviamente, o de controlar o comércio da China com o exterior.
Tsingtao, com a baía envolvente, um dos melhores portos da China, era a base da Esquadra naval alemã da Ásia Oriental e as infra-estruturas necessárias para o acomodar foram construídas durante os 16 anos de ocupação alemã (1898-1914). O período foi de rivalidade tão intensa quanto a prosperidade económica que terá gerado, mas a multipolaridade do conflito foi de curta duração: em 1905, os japoneses expulsaram os russos de Porto Arthur e em 1914 fizeram o mesmo aos alemães de Tsingtao, aproveitando a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Os nipónicos ficaram por lá nos oito anos seguintes (1914-1922).
Data dessa época a criação de relações suficientemente próximas com a Coreia (então colónia japonesa) para fazerem com que Tsingtao (que passou a ser conhecida por Quingdao) seja, de entre as cidades da China, aquela onde reside a segunda maior comunidade coreana (a seguir à da capital Pequim) com cerca de 100.000 pessoas. Permanecendo cosmopolita, a cidade voltou a ser ocupada pelos japoneses em 1938, agora por ocasião da Segunda Guerra Sino-japonesa (1937-1945), e novamente aproveitada como base naval pela marinha imperial japonesa. A foto aérea acima, de 1944, mostra-nos essa mesma base naval como alvo dos bombardeiros norte-americanos. Num remate irónico, em que já se viu que a história de Quingdao é fértil, foram esses mesmos norte-americanos que vieram ocupar por sua vez a base para servir de Quartel-General à sua VII Esquadra (1945-1948).
Numa fotografia de Quingdao desse período pode apreciar-se um out-door de promoção ao novo Ford Mercury de 1949, numa indicação daquela prosperidade que costumava subsistir à volta dos estabelecimentos militares norte-americanos no estrangeiro e que se adivinha com os dias contados, com o estabelecimento próximo do regime comunista da República Popular da China. Mesmo assim, e apesar da brevidade da presença alemã, não deixa de ser curioso de como a parte antiga da cidade manteve a traça europeia. Nesta última fotografia do centro da cidade, onde não aparecem pessoas e com a Catedral Católica de São Miguel ao fundo da rua, até se podia imaginar que se estava numa cidade da Europa central.
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