João Bilhim. Uma reputada figura, distanciada da área do poder (apoiante público de Manuel Alegre nas eleições presidenciais de 2011), escolhido nesse ano para presidir à Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública (CRESAP), cargo a que se atribuiu uma importância imensa (vencimento equiparado ao do primeiro-ministro) para que se acabasse com a percepção generalizada que o preenchimento dos cargos do Estado é feito por critérios outros que não o mérito de quem os preenchia. Um ano depois (Dezembro de 2012, completam-se agora três anos) podemos ler João Bilhim triunfante numa entrevista à Lusa: Acabaram-se os "jobs for the boys" na função pública. O presidente da CRESAP foi peremptório. Eu tenho uma história de vida que fala por mim (...) tenho 66 anos, não dependo disto, presido a um órgão que não pede nem recebe instruções do governo (...) não sou influenciável. É raro e ao alcance de poucos mas parecia que havia quem tivesse seguido as pisadas de César que veio, viu e venceu.
O tempo, que tudo esclarece e consolida as vitórias quando verdadeiras, mostrou-se porém madrasto e já este ano, aproximava-se o mandato deste governo do fim, governo esse de quem, recorde-se, João Bilhim não pedia nem recebia instruções, e vemo-lo confessar-se muito desconfortável e triste com o resultado de 14 nomeações de dirigentes de centros distritais da segurança social de que foram 11 para militantes do PSD e 3 para militantes do CDS. Não era propriamente uma novidade, o que tornava o caso informativamente interessante era que esta encomenda fora processada por atacado. Como consequência da sua actuação ficara um longo rasto de antecipáveis insatisfações de candidatos preteridos, mas com algumas de surpreendentes áreas onde até grassava a simpatia pelas hostes governamentais, além das hordas de militantes socialistas na oposição que, acreditando no honestidade do discurso de Bilhim, coleccionaram concursos onde eram seleccionados mas sempre preteridos na fase decisiva. Estas hordas de militantes do PS eram um péssimo augúrio para João Bilhim quando o poder mudasse de mãos. Como agora aconteceu. Adivinha-se uma vontade de lhe fazer a folha. E tenho quase a certeza que lha vão fazer, e ao projecto também, coitado, que esse não tem culpa que tenham lhe tenham posto uma pessoa como João Bilhim à sua frente, para poder ser devidamente sabotado. No princípio desta semana (a 14 de Dezembro) João Bilhim deu uma entrevista na RTP2. Foi uma daquelas entrevistas agressivas na sua cordialidade aparente: ou o entrevistado é estúpido ou está a tentar passar por estúpido (à Zeinal Bava) ou está a tentar tratar os espectadores que o vêm como estúpidos. Tentou a quadratura do círculo: fazer que sabia mas sem saber com que intuito os mecanismos de selecção eram utilizados para colocar no cargo quem se desejava à partida. Tivesse ele sido mais modesto no cantar de galo e dispensá-lo-ia a humilhação. Mas assim: que figura de urso andou ele por ali a fazer...
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