Alguém se deu a bom trabalho de pesquisa para encontrar e justapor estas duas fotografias. O local é o mesmo, como se percebe pela profusa decoração da parede por detrás dos dois papas. Mas tudo o resto difere, a magnificência da cadeira, a sumptuosidade dos paramentos, até a altura do próprio estrado, e é pertinente perguntarmo-nos se tudo isso que as distingue não será uma boa síntese das diferenças de personalidade dos dois últimos papas e do seu estilo pontifical. Pelos olhares exigentes (mas muitas vezes ignorantes) da opinião pública mundial, Bento XVI acaba por sair trucidado de comparações como esta, quando o alemão se limitou, na esmagadora maioria do que observamos, a preservar tradições de fausto que já eram multiseculares quando da sua eleição. Mas Francisco I é outra coisa. Criou uma imagem carismática com a sua sobriedade que quase dispensa que a máquina promocional que o acompanha precise de repetir esse facto à saciedade (como acontecia com o carisma de João Paulo II). Apreciando o fenómeno de fora e a forma como o papa argentino a tem tentado dirigir, tenho fundadas dúvidas que ele consiga rectificar a Igreja Católica a fundo nos anos que lhe restam de pontificado (completa hoje 79 anos), apesar de reconhecer à instituição depois da sua entronização (2013), uma outra coragem e humildade em reconhecer os seus erros. Mas aquilo que creio que a Igreja Católica mais lhe vai ficar a dever (a Francisco), é o reconhecimento pela Civilização Ocidental (que se tornou tanto cristã, quanto ateia, quanto agnóstica, quanto judaica, quanto...) de que após séculos de Cismas e Reformas a Igreja Católica (que foi o alvo desses Cismas e Reformas) consegue eleger finalmente para a sua cúpula um homem que nos aparece como vulgar, despojado, simples e bom. E melhor: com o aparecimento das redes sociais, nem é preciso o recurso à máquina de propaganda tradicional para nos convencer de todos esses predicados. A isso chama-se Superioridade Moral, algo que é intangível. É intangível e por isso difícil de mensurar mas percebe-se que existe quando, por exemplo, se pergunta a opinião sobre Francisco a pessoas muito distanciadas ideologicamente dele (da esquerda e/ou extrema esquerda) e estas, não o elogiando, também não o hostilizam. Embora já tenha encontrado uma ou outra surpresa até do outro lado do espectro (mas do género é carnaval, ninguém leva a mal).
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