A 16 de Novembro de 1922 Benito Mussolini pronunciou o seu primeiro discurso diante da Câmara de Deputados italiana na qualidade de presidente do Conselho, um discurso que ficou memorável pelo seu estilo altivo e truculento, emblemático do autoritarismo despótico que o fascismo representava e que ainda hoje é recordado em Itália pelo designação de il discorso del bivacco - o discurso do acampamento.
Foi o teor geral de certas intervenções desta semana de alguns deputados dos partidos da direita, CDS e PSD, que me fizeram lembrar a célebre acutilância desdenhosa pela instituição parlamentar que Mussolini expressou de forma tão clara. Bem sei que há a substancial diferença de que Mussolini se queria mostrar arrogantemente magnânimo na vitória, enquanto Passos Coelho e Portas nada mais podem fazer do que mostrarem-se despeitados na derrota mas, nos 70 anos que a Europa regista depois do fim da Segunda Guerra Mundial, com muito episódicas excepções, as formações políticas da direita sempre constituíram tradicionalmente o paradigma da civilidade na condução dos trabalhos parlamentares. Até mesmo no Portugal do Estado Novo, onde essa actividade (parlamentar) era muito mortiça (perdoe-se a ironia...), Salazar adoptou um estilo de falar à Câmara completamente diverso do de Mussolini. Para analogia, foi preciso recuar muitos anos (93, para ser preciso) e vasculhar muitas sessões de vários parlamentos europeus para encontrar um desdém (implícito) pela Democracia representativa que se assemelhasse inspirador àquilo que vimos demonstrado em rigorosa estreia nacional nestas últimas semanas na nossa Assembleia da República.
O estilo de mussolini "altivo e truculento, emblemático do autoritarismo despótico que o fascismo representava", tem imensas semelhanças com os discursos de maduro e chavez. Impressionante! A altivez e o autoritarismo, de quem é dono da verdade, do discurso do be também não anda longe. Estivessem no poder e seria o bom e o bonito.
ResponderEliminarO seu comentário é muito interessante e creio-o significativo dos tempos políticos, quase revolucionários, que vivemos.
ResponderEliminarO teor do comentário que escreveu posiciona-o inequivocamente à direita no espectro político. A táctica do seu comentário, porém, surpreendeu-me porque a conheço há décadas mas praticada pelos comunistas e aparentados, não por quem de direita. Dei-lhe um nome: é a "táctica dos bugalhos". Porque se está a falar inicialmente em alhos e quem entra na conversa procura posicionar insidiosamente o tema noutro lado: “bugalhos”.
Um exemplo canónico, envolvendo comunistas ou aparentados, acontece com qualquer assunto que envolva os campos de trabalho do arquipélago de Gulag. O comentário (“contributo”) de um deles (comunista) envolverá obrigatoriamente Hitler e Auschwitz para que os bugalhos do genocídio tentem diluir os alhos das perversões do sistema prisional soviético.
Também no comentário que aqui deixou a conexão que eu fizera entre o mau comportamento parlamentar de Benito Mussolini e o de (por exemplo) Paulo Portas por estas semanas aparece substituída por outra entre o ditador italiano e Chavez e Maduro, não se compreendendo de todo a que propósito é invocada. Haverá conexões bem mais óbvias do populismo esquerdista latino-americano na Venezuela com outros vultos políticos da História, caso óbvio de Fidel Castro, caso um pouco mais rebuscado o de Juan Perón. Melhor que isso, só mesmo esticar a crítica, como se tenta, até ao Bloco de Esquerda...
Aquilo que se assistiu em alguns discursos pronunciado por parte de vários intervenientes do PSD e do CDS/PP, o desrespeito demonstrado pelos próprios alicerces da democracia representativa (a assembleia para quem discursavam era o resultado compósito das escolhas do eleitorado de 4 de Outubro passado), não tem nada a ver com isso. É bastante mais grave. São desrespeitos que, por exemplo, não me lembro feitos por parlamentares de organizações de extrema-direita tão vilipendiadas quanto a Frente Nacional francesa.