28 dezembro 2015

TRATARAM DA SAÚDE AO MARCELO E A MARIA DE BELÉM TRATOU-NOS DA SAÚDE

Está de parabéns o deputado socialista Filipe Neto Brandão e o seu trabalho de investigação de ir buscar às actas da Assembleia os resultados da votação sobre a aprovação do Serviço Nacional de Saúde para expor as contradições de campanha presidencial de Marcelo Rebelo de Sousa. Roubando as palavras do próprio Neto Brandão: Marcelo até pode estar arrependido do gesto, mas isso não lhe dá o direito de tentar falsificar a História... Reconheça-se que, ao contrário do que diz o ditado popular, nem sempre é verdade que mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo. Esta é a demonstração de quanto trabalho pode dar ir atrás de um mentiroso e é merecido que o seu trabalho se tivesse tornado viral. Só é pena que o investigador não tenha feito uma pesquisa adicional ao diário dessa sessão para confirmar se Marcelo Rebelo de Sousa, à época (Junho de 1979), era deputado em exercício e se estava no hemiciclo: por acaso creio que não era deputado e, caso o fosse, por constatação da lista de presenças tenho a certeza que não estava presente na sessão... A não ser que Filipe Neto Brandão perfilhe a lógica da responsabilização por blocos partidários (os militantes são responsáveis por todas as decisões dos partidos onde militam), será que o deputado socialista (e em exercício de funções!) se arrependerá por sua vez do gesto? Mas, se calhar, isso agora não interessa nada, como diria a Teresa Guilherme. O que interessa é que até a comunicação social adversa deu publicidade ao assunto (escapando-lhe a gaffe).
Em contraste, parece-me inequívoco para lá de qualquer investigação que uma das rivais de Marcelo, a candidata Maria de Belém Roseira, foi a ministra da Saúde do XIII Governo Constitucional. Quando ela se pronuncia sobre o tema da Saúde, como se tornou quase imperativo que os candidatos presidenciais fizessem depois daquilo que aconteceu no caso da urgência de neurocirurgia inexistente do Hospital de São José, fá-lo-á com vantagem sobre a concorrência e com a cátedra de, durante quatro anos (1995-1999), ter sobraçado aquela complicada pasta ministerial. O que dá uma outra valia às suas palavras quando ela se pronuncia sobre cortes na saúde (acima). Para comparar com a que foi a sua actuação, não há 36 anos, mas há apenas 16. O relatório da Auditoria ao Serviço Nacional de Saúde, que foi elaborado pelo insuspeito Tribunal de Contas em 1999, parece ser uma grande ajuda para esse fim. É com ele que ficamos a saber (abaixo, pp. 89 e 90) que entre 1995 e 1998, sob Maria de Belém, o défice financeiro do SNS mais do que triplicou, passando dos 100 milhões de contos para os 330 milhões (o equivalente actual a 1.650 milhões de euros). No mesmo quadro lê-se que as dívidas do SNS em finais de Setembro de 1998 montavam a 1.370 milhões de euros. Com um tal desequilíbrio e descontrole, é legítimo questionar se, durante a gestão de Maria de Belém, terá havido cortes de qualquer espécie naquele sector, tivessem sido eles críticos ou acríticos...
Num exercício para dar ao leitor uma escala comparativa da situação então atingida com a actualidade, veja-se este outro quadro abaixo onde se lê que, em finais de 1996, as dívidas às farmácias montavam aos 34 milhões de contos (170 milhões de euros). Pois bem, no princípio de Novembro passado (2015) foi notícia ultrajada que o ministério da Saúde lhes devia quase 100 milhões... Ao contrário de Filipe Neto Brandão eu não adoto a sua lógica da responsabilidade partidária colectiva, extrapolando que todos os socialistas são igualmente irresponsáveis na gestão pública como o foi esta sua ilustre camarada, mas a minha opinião firme é que Maria de Belém Roseira é uma candidata muito séria a um dos lugares do pódio dos piores ministros da Saúde que tivemos em Portugal. Que ela tenha querido ser também candidata presidencial só mostra como, à força de todo aquele seu falar sem dizer nada, ela nem se toca... Suspeito que será só por não a levarem a sério é que não a fazem ouvir estas evidências como ela mereceria. Mas merecendo-o e sendo levado a sério, Marcelo também deveria, a bem do rigor, não apanhar por aquilo que não fez... Ele não votou contra a lei da criação do SNS. A bem da Verdade, que eu sei que é coisa que não combina bem com política e com campanhas eleitorais, mas de que gosto muito...

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