Admitamos, num passado hipotético, que num daqueles bairros plácidos dos arredores de Lisboa, com aquela configuração tradicional que lhes deu a arquitectura do Estado Novo, se podia ter desenvolvido entre a rapaziada do bairro um gosto entusiasmado pelo jogo do berlinde. E o entusiasmo cresceria dos jogos entre a malta da mesma rua – aqueles que geram os campeões das respectivas ruas… – para uma competição mais exigente no jardim central do bairro, reunindo não apenas os vários campeões de arruamento como também os amigos, primos e conhecidos da malta do bairro.
Então se, por hipótese, um qualquer refrigerante patrocinasse com alguns tostões esses campeonatos de bairro e se alguns dos campeões locais aparecessem depois nas fotografias das páginas publicitárias de uma revista juvenil qualquer, ninguém duvidará como os fotografados seriam considerados entre a malta nova e por algum tempo os verdadeiros heróis do bairro, além de que seria normal esperar que, com aqueles egos inchados, os melhores de entre eles se quisessem considerar a si próprios como os campeões nacionais do bilas. E não seria natural esperar tudo isso de miúdos daquela idade?…
O que se torna engraçado é que, mudando-se o tempo e os meios, podemos assistir a uma reencenação disso tudo, mas agora com adultos! O jogo de berlinde agora são os blogues exclusivamente políticos e a promoção na revista juvenil faz-se agora num canal de notícias - a TVI24. Mas a presunção está lá toda, quer a de considerar o jogo do berlinde como o único hobby decente, quer a de considerar-se conhecedora da realidade nacional para se arrogarem para si a competência de organizarem a eleição do melhor jogador dextro, do melhor canhoto, do melhor individual ou da melhor equipa…
Então se, por hipótese, um qualquer refrigerante patrocinasse com alguns tostões esses campeonatos de bairro e se alguns dos campeões locais aparecessem depois nas fotografias das páginas publicitárias de uma revista juvenil qualquer, ninguém duvidará como os fotografados seriam considerados entre a malta nova e por algum tempo os verdadeiros heróis do bairro, além de que seria normal esperar que, com aqueles egos inchados, os melhores de entre eles se quisessem considerar a si próprios como os campeões nacionais do bilas. E não seria natural esperar tudo isso de miúdos daquela idade?…
O que se torna engraçado é que, mudando-se o tempo e os meios, podemos assistir a uma reencenação disso tudo, mas agora com adultos! O jogo de berlinde agora são os blogues exclusivamente políticos e a promoção na revista juvenil faz-se agora num canal de notícias - a TVI24. Mas a presunção está lá toda, quer a de considerar o jogo do berlinde como o único hobby decente, quer a de considerar-se conhecedora da realidade nacional para se arrogarem para si a competência de organizarem a eleição do melhor jogador dextro, do melhor canhoto, do melhor individual ou da melhor equipa…
http://mercadodebemfica.blogspot.com/2010/07/carica.html
ResponderEliminarhttp://mercadodebemfica.blogspot.com/2011/08/volta-portugal-em-caricas-brincadeiras.html
Parece-me que há uma certa confusão entre o jogo do «bilas» e o das caricas...
ResponderEliminarCaro A. Teixeira
ResponderEliminarDeixei aqui as ligações aos artigos em causa, por nos mesmos se reflectir muito do ambiente de bairro plácido moldado pelo urbanismo estadonovista; não por confundir berlindes com caricas, o que para o caso até será o que menos importa.
Nessa perspectiva que descreve tem toda a razão José.
ResponderEliminarEmbora, aqui entre nós e porque a carica é um subproduto, eu tenda a subvalorizá-la quando em comparação com actividades que necessitam de "investimento" como o berlinde, bicicleta ou o skate...
Caro A. Teixeira
ResponderEliminarPercebo-o perfeitamente, até porque eu nunca fui um grande fã da carica. Sempre preferi o futebol (as "peladinhas" de rua) e as bicicletas ;-)