A implosão de uma das torres do bairro do Aleixo no Porto, não foi apenas a destruição física (e espectacular) de um imóvel (acima). Terá sido também – e disso não me apercebi que se tivesse falado nos órgãos de comunicação social que a cobriram – a implosão simbólica de uma certa concepção urbana que parecia acreditar que a qualidade das infra-estruturas poderiam influenciar as características da comunidade que delas usufruia.
Não deixa de ser relevante lembrar que já há 40 anos – antes portanto daquele bairro ter sido edificado… – já René Goscinny parodiava essa concepção e os fins políticos a que ela se podia prestar – acima as páginas iniciais da aventura de Astérix de 1971, O Domínio dos Deuses. Nela, Júlio César tentava construir um gigantesco bairro romano junto à aldeia gaulesa com o propósito de assimilar culturalmente os companheiros de Astérix…
Reconheço que há uma grande injustiça nesta analogia quando se comparam os simpáticos gauleses à pouco simpática população do bairro do Aleixo... Mas no resto, até ao desfecho – abaixo – as semelhanças são indesmentíveis e torna-se retrospectivamente difícil explicar como se terá persistido no erro a não ser que tenha havido outros motivos para o fazer, bem menos ingénuos do que concepções de reordenamento urbanístico…
…E, como nota final e um elogio à sobriedade de Rui Rio, para distinguir estilos diferentes de fazer política e porque a memória jornalística tende a ser extremamente curta, permitam-me relembrar aqui quando, operações deste mesmo género, por causa da sua espectacularidade e da atracção dos media que elas suscitavam, eram pretexto para que o primeiro-ministro de então aparecesse a fingir que era ele que detonava os explosivos…
A população do bairro do Aleixo é tão pouco simpática como a de qualquer outro bairro do país; é gente normal que quer viver a vida em paz, trabalhar e criar os filhos, num local que foi invadido por uma minoria traficante de droga, a quem as chamadas “autoridades” nunca quiseram chatear a sério.
ResponderEliminarQuanto ao presidente da CMP e às suas explosões, é tão demagogo como Sócrates. No caso do Aleixo o que está em causa é um terreno com vistas para o rio e para o mar, que vale 15 milhões de euros. Foi isso que levou Rui Rio a associar-se a Vítor Raposo, do clã Duarte Lima, para demolir o bairro e construir no seu lugar habitações de luxo. Aquela gente, que foi despejada da Ribeira para o Aleixo, levará agora um novo pontapé no cu para outros lados. Quanto ao tráfico de droga, com que era suposto acabar, transferiu-se para um bairro próximo, o da Pasteleira.
Enquanto Rui Rio promove habitações de luxo, nas ruas do Porto assiste-se ao que se retrata neste vídeo, que lhe recomendo vivamente:
http://vimeo.com/33699818#embed
No mesmo ambiente de recomendações com que se despede só me resta concluir que devemos ver vídeos muito diferentes. Se quiser ver este:
ResponderEliminarhttp://tv1.rtp.pt/noticias/index.php?t=Crise-e-obstaculo-a-ultrapassar-na-demolicao-do-Bairro-do-Aleixo.rtp&article=510329&layout=10&visual=3&tm=8
encontrará uma reportagem da RTP que capricha em nos mostrar toda a "simpatia", "normalidade" e "pacífismo" da população do bairro do Aleixo.
Quanto ao resto do que escreveu só lhe posso sugerir que vá descobrir o significado da palavra demagógico. Raramente vi um exemplo tão cristalino de demagogia quanto a associação que força entre Rui Rio e Duarte Lima.