05 dezembro 2011

CENAS DE UMA REFORMA PROCRASTINADA


Começo por deixar claro que não tenho qualquer simpatia tanto pela posição política como pela atitude assumida pelos autarcas das freguesias que se manifestaram contra Miguel Relvas durante a cerimónia de encerramento do seu XIII Congresso que teve lugar em Portimão. Tratar-se-á de um sector muito minoritário que representa o que de mais há de conservador e reaccionário na sociedade portuguesa moderna. O incidente foi explorado também politicamente pelo governo através da (mais do que) previsível vitimização de Miguel Relvas: no momento, a jornalista da RTP ali destacada dirigiu-se para alguns dos autores das vaias perguntando-lhes se aquela manifestação fora organizada de antemão, fazendo, por acaso, uma pergunta em consonância com aquilo que Miguel Relvas comentará para a informação depois de proferir o seu discurso

Mas, para além dessa cenografia a que a informação se presta sempre, a cobertura que foi dada ao incidente não terá excedido a superficialidade do costume: houve a tendência de confundir a questão específica da fusão de freguesias com a questão mais ampla da reforma administrativa. Nada de mais errado: o grande desafio político da reforma será (se o governo e Miguel Relvas tiverem coragem para a fazer avançar…) a que se terá de proceder a nível municipal. A diferença que o governo terá entre a oposição a defrontar entre a que virá das freguesias e a que virá dos concelhos poderá ser antecipada comparando o vídeo acima com o de baixo: acima, temos um mediático presidente de uma junta de freguesia, a de Rans, a discursar num Congresso do PS; abaixo é um outro mediático presidente, mas de Câmara, a de Caldas da Rainha, a discursar num Congresso do PSD...
Creio que a distância que vai do Tino para Fernando Costa justifica o meu cepticismo no empenho de Miguel Relvas em avançar muito mais com a tal reforma administrativa, a não ser a contragosto – veja-se, na ressaca dos acontecimentos, a notícia amenizadora do secretário de Estado Paulo Júlio, assegurando que o montante das transferências de dinheiro para as freguesias não diminuirá no global, apesar das extinções. Mas, já que o assunto é fazer de conta, uma nota sobre os comentários de ontem de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI com a sua solução para o problema: deixar que os órgãos autárquicos se fundam livremente por iniciativa própria! A rapidez como Marcelo pensa faz-me lembrar o bip-bip que desafia a gravidade atravessando desfiladeiros; a nós só nos compete, como o coiote e com essa aborrecida necessidade de manter os pés no chão, segui-lo…

1 comentário:

  1. Já que estamos em maré deles, pode dizer-se que o Presidente do Município das Caldas é um genuíno artista português! Do congresso a que se reprota a peça comentada, aqui fica mais uma cena de antologia aos 2:20 - http://www.youtube.com/watch?v=I0FxiLN3ZJk

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